Em ambientes semelhantes, na capital paraibana, outros "abnegados" com uma visível vocação política, já ensaiavam os primeiros passos no labirinto da Assembléia Legislativa numa infindável negociação para que o projeto de lei que nos concedia a emancipação política fosse aprovado ainda em 1961.
Que não estamos falando de uma realidade desprovida de importância, isto está claro. Afinal, os tempos já haviam sido mais difíceis: tempos em que os interesses partidários sobrepunham-se aos coletivos e perdemos a primeira grande oportunidade ainda em agosto de 1953, quando Pilões, finalmente fora emancipado e Arara continuou atrelada ao domínio administrativo de Serraria, mesmo já sendo maior e mais acessível do que a sede. Foram tempos em que as velhas oligarquias coronelistas nordestinas, também serviam de modelos para as famílias Lira, Cunha e Baracuhy, representantes da conservadora sociedade pilonense, aliadas aos serrarienses, por razões obvias, não demonstravam nenhum interesse pela causa da nossa emancipação.
Finalmente em 19 de dezembro de 1961, depois de muitas negociações político/partidária com o Governador Pedro Moreno Gondim, ocorreu à instalação do novo município, esses momentos decisivos da história, encontram-se narrados no 1º livro de atas da "Casa de Josué da Cruz", no qual consta o termo de presença do Juiz de Direito da Comarca de Serraria, Dr. Miguel Levino, presidindo a seção de instalação do novo município, comprovando a falta de carinho e zelo dos nossos representantes políticos na esfera estadual.
Não nos parece demasiado afirmar, que até o prefeito interinamente nomeado, Sr. Dedício Pereira Maia, provavelmente influenciado pelos caprichos da sua esposa que era de Pilões, demonstrava um descabido desprezo pelo novo município, não reconhecendo a grandeza do ato jurídico para o desenvolvimento do antigo distrito, inclusive, logo após esse mandato temporário, o Sr. Dedício Maia, juntamente com seus familiares migrou para João Pessoa e parece ter esquecido permanentemente esta terra.
Não surpreende, aliás, que a história do nosso município contenha tal percalço. Afinal, apesar de ela ter começado num momento singularmente importante da vida nacional, as nossas lideranças políticas locais não foram nem um pouco ousadas no sentido de aproveitar a fase de modernidade que o Brasil vivenciava.
Arara se emancipou nos tempos do alvorecer de Brasília, da ascensão política de Jânio e Jango, da fundação das ligas camponesas, dos movimentos feministas, da beathemania, da jovem-guarda e até da conquista do espaço pelos soviéticos e norte-americanos. Enquanto o mundo fervilhava em movimentos cosntantes por mudanças estruturais, Arara apenas mudava o seu status de Distrito de Serraria para Município Sede emancipado, não tendo conseguido sua comarca, que só chegou em 2006, nem sequer sua paróquia, que só foi conseguida em 1987.
Aqueles eram tempos de um salto industrial sem precedentes no eixo Rio-São Paulo, porta de entrada para os nossos jovens trabalhadores. Enquanto isso, aqui na terrinha, vivíamos o nosso limitado auge da produção algodoeira, sisaleira, de amendoim, alho e feijão, além de um florescimento extraordinário no plano comercial com destaque para os negócios das famílias Duarte, Bandeira, Bento, Freire e Santos Leal e outros tantos de menor expressão local.
Nesse cenário agrícola-comercial, o prefeito Dedício Pereira Maia, governou por apenas 1 ano como determinava o ato de sua nomeação, já em 1963 repassou o poder para Marísio Moreno, primeiro prefeito eleito em 07 de outubro do ano anterior, sendo uma figura muito importante desde a época do antigo distrito, pela maneira educada com a qual tratava as pessoas, e principalmente, por ter dois irmãos “doutores”, além dele ser um latifundiário e líder maior da UDN, facção política da qual fazia parte.
Marísio Moreno ao lado dos representantes da antiga UDN/ARENA/PDS (Com o Dep. estadual Afrânio Bezerra)
Durante o seu mandato, Marísio Moreno, tomou sérias medidas administrativas que desagradaram muito aos comerciantes da recém-criada cidade, dentre as mais impopulares, consta a transferência da feira livre para o local atual, que naquela época era visto em 3D (despovoado, distante e desfavorável), além da proibição de se criar animais soltos nas ruas recém-calçadas. Graças a essas medidas impopulares, Marísio Moreno jamais conseguiu eleger-se prefeito, mesmo assim, continuou liderando a política partidária local pelas próximas três décadas.
O Segundo prefeito eleito de Arara, apoiado por Marísio Moreno, foi o comerciante Joaquim Pereira de Morais (Joaquim Zone). Interessante notar que mesmo sendo semi-analfabeto, este prefeito teve uma atenção especial para com a educação neste município, ao contrário de Marísio que apesar de não ser formado, era muito bem informado, Joaquim Zone mal sabe assinar o próprio nome. Numa época em que Arara dispunha de apenas três escolas formais, Joaquim Zone, duplicou esse número construindo outras três (triângulo, Serrote Branco e Riacho Fundo). Provavelmente por reconhecer sua própria deficiência educacional.
Foi na substituição de Joaquim Zone que se deu a grande mudança. Em uma eleição bastante disputada foi eleito o senhor Reginaldo Azevedo do Nascimento (Zé Sobrinho), ex-presidente da Câmara e sobrinho do ex-vice prefeito Manoel Cândido. Embora tenha sido aliado de Marísio Moreno na sua primeira eleição, Zé Sobrinho agora era integrante do outro grupo político, um grupo que tinha um viés mais popular e que era formado, também, pelas famílias Duarte e Freire. Zé Sobrinho já havia sofrido uma derrota em 1966, para Joaquim Zone, e como naquela época, os Generais-Presidentes haviam criado a figura jurídica da legenda e a sub-legenda, a junção dos votos do MDB 1 com o MDB 2, deu a vitória ao jornalista Zé Sobrinho, em 25 de outubro de 1969, com 302 votos. Naquela eleição, começava a surgir no cenário político municipal, aquele que viria a ser o mais humilde dentre todos os prefeitos da nossa história, refiro-me a Zé Bigode.
Com relação ao resto da história, dos prefeitos eleitos a partir de 1982, brevemente voltarei a tratar desse assunto em outra postagem.
Para não fugir do tema, já que pretendo homenagear três figuras exponenciais da história da nossa cidade, deter-me-ei preferencialmente na atuação político-pessoal de Zé Bigode, essa figura humana irrepreensível, cuja ocupação primordial tem sido nos últimos 50 anos, de uma forma ou de outra, aliviar a dor dos que mais sofrem, com uma conversa franca e ligeiramente agradável, mesmo depois que encerrou suas atividades de farmacêutico, continua acalentando as pessoas nos momentos mais delicados da vida, ou seja, até no leito de morte de quem quer que seja, Bigode se faz presente, prática, aliás, que se tornou um hábito rotineiro para ele desde há muito.
O ato de evocar uma figura como a do nosso ex-farmacêutico (para muitos, quase um médico!) e por duas vezes prefeito, provoca especial emoção, principalmente, porque a despeito da gravidade dos seus atos (aplicar injetáveis e até receitar), de homem sobre cujos ombros pareciam pesar permanentemente o sentimento do mundo – para repetir o poeta Drummond – Bigode era o simples. Um simples que nunca hesitou em sair pedalando um ciclomotor para aplicar um medicamento injetável num “paciente” que se encontrava enfermo e sem possibilidade alguma de locomoção.
Um simples que continuou “receitando e aplicando seus injetáveis” mesmo depois de tornar-se prefeito numa terra onde não existiam hospitais, muito menos médicos, a não ser o seu amigo pessoal padre e paramédico Lamberto de Groot.
Zé Bigode, Santa e Padre Lamberto: uma parceria duradoura e com muitos resultado
Entretanto, não podemos falar na simplicidade de Bigode, sem relembrar do extraordinário trabalho social dos Padres Lamberto e Leonardo.
Padre Lamberto e Zé Bigode, numa rara aparição em eventos sociais.
Mas, sobretudo, foram os tempos da ação social mais impactante do Padre Lamberto, com a implantação de uma maternidade ao lado da Igreja Matriz, onde hoje se encontra a casa paroquial. Tempos marcados pela relativa facilidade na busca pelo auxílio das parturientes, para aqueles que viram a luz solar nesta terrinha já na segunda metade da década de 70. A partir da iniciativa do Padre Lamberto, as futuras mamães ararenses já não mais corriam riscos desnecessários sob a proteção das dedicadas comadres parteiras, pois agora tinham à disposição uma maternidade.
Tempos difíceis foram aqueles... Tão difíceis ao ponto de sensibilizar aqueles missionários holandeses, que após uma longa estada na África, aqui chegaram e como permaneceriam nesta terra até completarem o ciclo natural da vida, se empenharam pessoalmente para ajudar aos mais necessitados, sem nada pedir em troca.
Vale salientar que além das ações sociais voltadas para a saúde e moradia, o padre Leonardo também se mostrou preocupado com a educação e implantou muitos projetos de qualificação profissional em Santa Fé. Apenas para citar alguns exemplos, no casarão do Padre Ibiapina, funcionavam oficinas para formação de marceneiros, serralheiros, torneiros mecânicos, carpinteiros, pedreiros, eletricistas e artesãos, onde muitos ararenses aprenderam uma profissão que ainda hoje a exercem. Além dessas oficinas, haviam as granjas para criação de frangos e porcos, a casa de farinha comunitária e a usina de beneficiamento de milho.
Na verdade, ainda estamos vivenciando os tempos da imaturidade, em que temos como referência na área da saúde, a cidade de Campina Grande e a “ambulançoterapia” desempenha um papel fundamental na manutenção e multiplicação do prestígio dos detentores plantonistas do poder. Até quando teremos que conviver com essa situação vexatória?
Lamentável como vossa senhoria não externa a importância da figura pública e política que foi o Dedicio Pereira Maia. Limitar à apenas um parágrafo é lamentável!
ResponderExcluirO legado e respeito por ele é tanto, que os seus, ainda residentes da cidade, são pessoas consideradas.
Viva a figura política Dedicio Pereira Maia!
“provavelmente influenciado pelos caprichos da sua esposa que era de Pilões, demonstrava um descabido desprezo pelo novo município, não reconhecendo a grandeza do ato jurídico para o desenvolvimento do antigo distrito, inclusive, logo após esse mandato temporário, o Sr. Dedício Maia, juntamente com seus familiares migrou para João Pessoa e parece ter esquecido permanentemente esta terra”.
ResponderExcluirUm dia irei lhe contar a história, com fatos em jornais e registros, todo o inverso. Mas saiba: a querida Arara não está esquecida. Breve voltarei!