Para falar de Arara, decidi brincar com as 26 letras do nosso alfabeto, exacerbando o ufanismo que nos é peculiar. Peço perdão pela ousadia, mas pretendo escapar da obviedade, dispensando os adjetivos simples para fomentar enlaces com as palavras, dando às sílabas aspectos disformes e as ideias poderes alados.
Minha primeira viagem neste período composto começa com um longo parágrafo sobre o mundo sublunar. Você, caro(a) leitor(a), poderia imaginar a impetuosidade do Rio Araçagi depois de dez dias de chuvas torrenciais e simultaneamente a calmaria no tanque da serra? A belíssima paisagem noturna do Serrote Branco e o horroroso traçado angular das nossas ruas? Pois é, enquanto isso eu fico aqui, apenas brincando de ser escritor.
Ruas com traçado angular de Arara, até parece que na cidade não havia réguas... foto: Gregório (arquivo pessoal)
O princípio vital que dá vida aos organismos físicos em mim se envaidece, traço esses rabiscos numa folha de papel e, de repente, foi como se ouvisse Júlio Verne narrando sua volta ao mundo em oitenta dias... Ilusionista, não acha? Alguém teria visto a cachoeira da Pedra da Glória repleta de turistas?
Arara é assim, simples como um alvorecer, é mais uma esquina do mundo. Tão pacata que, até Padre Ibiapina viajou 895 quilômetros a cavalo para morrer aqui. Dizem que ele e Padre Leonardo continuam celebrando durante as madrugadas em Santa Fé...
Escrevo e reescrevo, metodicamente. Misturam-se as ideias, as emoções, busco o plano ideal, preparo no teclado a oração que mais embeleze o matiz de realce desse recanto do mundo. Pensei no alto do Catolé, no Serrote Branco, na Santa Fé e até no Riacho da Extrema, contudo, qual seria a mais bela tomada para retratar esta cidade através das lentes da minha objetiva? Talvez nenhuma... Ou todas?!
Sigo adiante, restaurando minhas lembranças pela Rua Bela Vista, bela paisagem na rua de nome bonito, outra característica da cidade de Arara, não sem antes contemplar o horizonte delineado no mar que banha as costas da ilha de ilusões que domina o universo masculino, enquanto este aprendiz de escritor, a custa de muito esforço, consegue conter os ímpetos que rotulam esse universo incompreensível, fruto dos caprichos da natureza.
Bom, com licença... Uma pausa para contemplação da morena que passa na calçada ao lado, bastou ela retardar o passo para congestionar meus pensamentos, fiquei retido no tempo...
Para melhor explicar o que significa escrever tão pouco sobre essa imensa beleza, vou revelar alguns costumes aqui da terrinha ensolarada: aplaudir o que é belo, cantarolar os infortúnios, aproveitar as oportunidades, atravessar os áureos anos com o menor esforço, pedir a bênção da padroeira nas tardes de 8 de setembro, depois de muito 'farrear' durante os três dias anteriores, e, dentre tantas beldades conhecidas, escolher a mocinha mais casta para jurar-lhe amor eterno (pelo ao menos, enquanto dure...). A receita do sucesso é falar pouco e observar muito!
Assim vivemos e para que mudar se está dando certo?
É claro que este meu texto se apresenta reduzido no contraponto com a realidade. No plano do mundo real, a vida aqui na terrinha não se resume apenas a isto. Outras prosas invadem as ruas e seguem, de porta em porta, chamando o dono da casa para interpretá-las... Nesse mundo real, onde “A vida é como rapadura... Doce, porém dura”, existem aqueles que fazem toda a diferença: os conterrâneos ararenses.
Como se não bastasse, a cidade de Arara sempre produziu (ainda produz) muitos boçais, a exemplo de Josué da Cruz, único exemplar de bebum que, depois de morto, virou celebridade no mundo reduzido dos políticos locais.
E nem adianta as esposas começarem a reclamar! Nos bares e botecos da feira-livre, eles continuam tomando ‘bicadas de cana’ e praticando o esporte favorito: jogar conversa fora. Isso inclui fofocas e intrigas, política, filosofia, economia, futebol e até ‘cornilanças’ e ‘chifranças’.
Espólio do finado Antonio Duarte, a casa que já pertenceu a um governador da Paraíba, hoje abriga uma funerária, um 'cassino' e um bar. Coisas que só se via nas novelas da globo... foto: Gregório (arquivo pessoal)
Arara é assim mesmo... Às vezes ela é antiga, outras é moderna, eventualmente até contemporânea, não adianta ninguém se desesperar. Aqui há um jeito próprio de andar, de vestir e de se falar (principalmente quando se fala mal... dos outros).
Ruas com traçado angular de Arara, até parece que na cidade não havia réguas... foto: Gregório (arquivo pessoal)
O princípio vital que dá vida aos organismos físicos em mim se envaidece, traço esses rabiscos numa folha de papel e, de repente, foi como se ouvisse Júlio Verne narrando sua volta ao mundo em oitenta dias... Ilusionista, não acha? Alguém teria visto a cachoeira da Pedra da Glória repleta de turistas?
Arara é assim, simples como um alvorecer, é mais uma esquina do mundo. Tão pacata que, até Padre Ibiapina viajou 895 quilômetros a cavalo para morrer aqui. Dizem que ele e Padre Leonardo continuam celebrando durante as madrugadas em Santa Fé...
Portal do santuário de Santa Fé, com a capela no segundo plano / Foto: Gregório (arquivo pessoal)
Escrevo e reescrevo, metodicamente. Misturam-se as ideias, as emoções, busco o plano ideal, preparo no teclado a oração que mais embeleze o matiz de realce desse recanto do mundo. Pensei no alto do Catolé, no Serrote Branco, na Santa Fé e até no Riacho da Extrema, contudo, qual seria a mais bela tomada para retratar esta cidade através das lentes da minha objetiva? Talvez nenhuma... Ou todas?!
Vista parcial de Arara para contempla-a do santuário de Santa Fé / Foto: Gregório (arquivo pessoal)
Sigo adiante, restaurando minhas lembranças pela Rua Bela Vista, bela paisagem na rua de nome bonito, outra característica da cidade de Arara, não sem antes contemplar o horizonte delineado no mar que banha as costas da ilha de ilusões que domina o universo masculino, enquanto este aprendiz de escritor, a custa de muito esforço, consegue conter os ímpetos que rotulam esse universo incompreensível, fruto dos caprichos da natureza.
Fachadas das residências ararenses, as melhorias são visíveis... Foto: Gregório (arquivo pessoal)
Bom, com licença... Uma pausa para contemplação da morena que passa na calçada ao lado, bastou ela retardar o passo para congestionar meus pensamentos, fiquei retido no tempo...
Em Arara é assim! Pode contemplar... (Foto gentilmente cedida para este blog)
Para melhor explicar o que significa escrever tão pouco sobre essa imensa beleza, vou revelar alguns costumes aqui da terrinha ensolarada: aplaudir o que é belo, cantarolar os infortúnios, aproveitar as oportunidades, atravessar os áureos anos com o menor esforço, pedir a bênção da padroeira nas tardes de 8 de setembro, depois de muito 'farrear' durante os três dias anteriores, e, dentre tantas beldades conhecidas, escolher a mocinha mais casta para jurar-lhe amor eterno (pelo ao menos, enquanto dure...). A receita do sucesso é falar pouco e observar muito!
Assim vivemos e para que mudar se está dando certo?
É claro que este meu texto se apresenta reduzido no contraponto com a realidade. No plano do mundo real, a vida aqui na terrinha não se resume apenas a isto. Outras prosas invadem as ruas e seguem, de porta em porta, chamando o dono da casa para interpretá-las... Nesse mundo real, onde “A vida é como rapadura... Doce, porém dura”, existem aqueles que fazem toda a diferença: os conterrâneos ararenses.
Depois de uma manhã de muito trabalho, Gabriel e o Galego seguem para o merecido almoço... (foto gentilmente cedida para este blog)
Como se não bastasse, a cidade de Arara sempre produziu (ainda produz) muitos boçais, a exemplo de Josué da Cruz, único exemplar de bebum que, depois de morto, virou celebridade no mundo reduzido dos políticos locais.
Quiosques no largo da Matriz: Padre Ibiapina deve estar se retorcendo no túmulo... foto: Gregório (arquivo pessoal)
E nem adianta as esposas começarem a reclamar! Nos bares e botecos da feira-livre, eles continuam tomando ‘bicadas de cana’ e praticando o esporte favorito: jogar conversa fora. Isso inclui fofocas e intrigas, política, filosofia, economia, futebol e até ‘cornilanças’ e ‘chifranças’.
Espólio do finado Antonio Duarte, a casa que já pertenceu a um governador da Paraíba, hoje abriga uma funerária, um 'cassino' e um bar. Coisas que só se via nas novelas da globo... foto: Gregório (arquivo pessoal)
Pessoas na praça, entre uma conversa e outra, aproveita-se muito bem o tempo livre... foto: Gregório (arquivo pessoal)
Arara, que beleza de lugar!
Sinceramente, fiquei impressionado com a forma de como você descreve Arara, usa os olhos da alma e a sensibilidade poética,crítica e debochada dos grandes narradores.
ResponderExcluirSinto-me feliz por ver minha querida e velha Arara ser despida de forma sútil e inteligente.
Nunca tinha tido o prazer de ver minha cidade nua, você me deu este prazer.
Parabéns pelo belo texto emoldurado por imagens do cotidiano ararense.
Obrigado,
Jurandy França