quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Ao vencedor, as batatas.



Passada a euforia momentânea objeto das comemorações alusivas à vitória do prefeito de Arara, depois do mais recente "round" político entre situação versus oposição, cujo placar final foi de 11 x 9, em prol dos primeiros, agora é a vez do ‘choque de realidade’, segundo o qual nem tudo sairá conforme foi idealizado pelo imaginário inconsciente 'da conexão 17'. 

Que bom seria se aquelas alegrias manifestas no final da tarde/início da noite do dia 07 de outubro do ano passado, entre os 57,2% dos eleitores de Eraldo, se perpetuassem por todos os dias nos próximos quatro anos, não é mesmo?!  Por outro, lado, uma tristeza inebriante também tomaria conta de 42,8% dos eleitores simpatizantes de Nem pelo mesmo período... Isto também seria literalmente funesto, não acham?

Nas primeiras horas deste ano, durante a cerimônia de posse do novo prefeito, ouvia atentamente as palavras do astuto representante dos vencedores, que ecoaram no vácuo parcial do silêncio da madrugada, através das quais, o nosso alcaide relatava seus ‘feitos administrativos’ dos últimos oito anos e tangencialmente admitia que estava entregando a prefeitura numa situação financeira difícil... [Seria mais honesto se o nosso alcaide dissesse em alto e bom tom que entregaria para o seu sucessor as chaves de uma prefeitura quebrada].

Senão vejamos: Mais de 300 servidores municipais ficaram com dois meses de salários atrasados e nenhum deles recebeu o décimo terceiro salário bem como a indenização correspondente a 1/3 férias. (Sem falar no rateio do FUNDEB, dos professores, que nos últimos anos, ao que parece, o ‘rato comeu’...).

Somente durante os primeiros dez meses deste ano, quando 'a casa ainda estava arrumada’ supostamente para viabilizar o sucesso nas urnas, o ‘rombo’ nas contas da prefeitura já se aproximava de um milhão e meio de reais, para ser mais exato, R$ 1.441.180,31. Sem contar as inúmeras pequenas contas no comércio local que não foram empenhadas em tempo hábil.

Além desta soma astronômica, não contabilizamos o calote milionário perpetrado pela Prefeitura de Arara contra o Instituto Municipal de Previdência, que oscila na cifra dos 5 milhões de reais, considerando que no mês de outubro/2012, haviam pouco mais de R$ 38.000,00 de reservas no banco, valor insuficiente para o pagamento de metade do 13º salário das 99 aposentadorias e pensões.

E o que dizer, então, dos convênios com o Governo Federal? Excetuando-se as compras de veículos e máquinas, todos ficaram inconclusos, nas palavras do alcaide "por problemas técnicos"... 

        É essa ‘batata quente’ que caiu nas mãos de Eraldo.

Obras de saneamento através de convênios com o Governo Federal: Algumas delas já se arrastam por seis anos... 

Evidentemente que não torcemos pelo fracasso da nova administração. Crescimento, desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida, certamente serão tudo quanto o novo prefeito deseja proporcionar ao município. Aliás, não é novidade que este também seja o sonho de todos os seres humanos. A questão é... Como alcançar estes objetivos? A resposta é com planejamento e estratégia.

    O planejamento se assemelha com as águas cristalinas de um rio: Deve ser claro e transparente.;;

   Como primeiro passo, o município precisa estabelecer um planejamento e uma estratégia. Um diagnóstico socioeconômico da cidade de Arara deverá ser elaborado pelo novo administrador, que assim poderá obter uma radiografia das nossas potencialidades. Qual a vocação econômica do município de Arara? Qual setor é mais forte? A abundante mão de obra local é capacitada? Existe artesanato religioso em Arara que possa gerar emprego e renda? Na agricultura familiar/pesca artesanal, poderia ser criada uma cadeia produtiva integrada, abrangendo desde o agricultor/pescador até o consumidor final?
Açude público do 'saco': Por que não se faz uma adutora para abastecimento da cidade numa situação de emergência?

      Estas são apenas algumas perguntas que a nova administração precisa responder. De modo geral, o município de Arara é conhecido por sua vocação para o setor da agropecuária ou para o de serviços. O setor do turismo poderia apostar em nossas belezas naturais, nossa temperatura amena e nos aspectos culturais para estimular o turismo e atrair idosos (aposentados, com muito dinheiro para gastar) para fixar residência permanente na cidade.

Afloramento rochoso da "Pedra da Glória" na comunidade do Jucá: local isolado pela sinuosidade do rio com paisagens singulares...

Vale lembrar que também na seara do turismo religioso, alguns questionamentos precisam ser feitos: O santuário de Santa Fé, e por extensão, a festa da Padroeira de Arara têm infraestrutura para receber os turistas? Há pousadas em quantidades suficientes para acolher este público? Temos água potável para atender bem aos turistas? Há restaurantes e outros serviços, como por exemplo, hospital e farmácias atendendo diuturnamente? Os nossos religiosos estão preparados para receber bem os turistas? E como fica a questão da segurança? 


Santuário de Santa Fé: Uma das alternativas para alavancar o turismo religioso de Arara...

       E como saber se o turismo religioso é mesmo a melhor opção para o município? 

  Enfim, o primeiro passo é mesmo responder estes questionamentos, para depois estabelecer uma estratégia. Definitivamente, não se pode vender o turismo religioso do Santuário do Padre Ibiapina e da festa da padroeira, sem antes termos a absoluta certeza de que essa é a melhor alternativa para o nosso setor de serviços.
Poderia ser muito interessante para o turismo religioso, pensar numa 'romaria' entre a Matriz de Arara e o Santuário, com parada obrigatória nas ruínas da última construção feita por Padre Ibiapina.

A nova administração precisa avaliar se é mesmo necessário ‘torrar’ milhares de reais dos parcos recursos da educação para contratar 'Dukinha' e outras bandas de forró de gosto duvidoso além das tradicionais girândolas para a festa da padroeira, e se realmente há um impacto socioeconômico positivo para o município de Arara.

Caso contrário, como já vem ocorrendo a cada ano, durante as festividades da padroeira, a cidade apenas continuará atraindo turistas eventuais (com baixo poder de compra), que pouco representam para mercado de consumo, deixando apenas a cidade mais suja, aumentando os índices da violência e ampliando ainda mais o nosso grave problema social.
       
      Resta agora torcer e esperar que o novo prefeito, consiga levar a cidade de Arara a dar um passo à frente, com harmonia, paz e justiça econômica e social.

     Voltando a chamada do título, ele foi inspirado numa obra do genial Machado de Assis, intitulada “Quincas Borba” na qual o escritor narra a trajetória de Rubião, professor que se torna rico de uma hora para outra ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo. 

(Caros leitores, por favor, não confundam com a herança política do ex-prefeito Biruca para o professor Zé Ernesto).

Após receber a herança, Rubião deslumbra-se com a nova vida e acaba traído por um casal de amigos, que rouba sua fortuna. No final da vida, pobre e doente, ele relembra um ensinamento de Quincas Borba, que sintetiza o Humanitismo.
Para explicar sua teoria, o filósofo evoca uma história sobre duas tribos famintas diante de um campo de batatas, suficientes apenas para alimentar um dos grupos. Com as energias repostas, os vencedores podem transpor as montanhas e chegar a um campo onde há uma grande quantidade de batatas. Então, Quincas Borba finaliza: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".

E por falar no autor de "Memórias póstumas de Brás Cubas", durante aquela cena patética no final da cerimônia de posse do Prefeito, uma pessoa de saudosa lembrança, deve ter se retorcido todinha no túmulo...


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