quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sorria, você está em Arara!

Para falar de Arara, decidi brincar com as 26 letras do nosso alfabeto, exacerbando o ufanismo que nos é peculiar. Peço perdão pela ousadia, mas pretendo escapar da obviedade, dispensando os adjetivos simples para fomentar enlaces com as palavras, dando às sílabas aspectos disformes e as ideias poderes alados.


Vista parcial da entrada da cidade de Arara, sentido C. Grande - Foto: Gregório (arquivo pessoal)


Minha primeira viagem neste período composto começa com um longo parágrafo sobre o mundo sublunar. Você, caro(a) leitor(a), poderia imaginar a impetuosidade do Rio Araçagi depois de dez dias de chuvas torrenciais e simultaneamente a calmaria no tanque da serra? A belíssima paisagem noturna do Serrote Branco e o horroroso traçado angular das nossas ruas? Pois é, enquanto isso eu fico aqui, apenas brincando de ser escritor.


Ruas com traçado angular de Arara, até parece que na cidade não havia réguas... foto: Gregório (arquivo pessoal)

O princípio vital que dá vida aos organismos físicos em mim se envaidece, traço esses rabiscos numa folha de papel e, de repente, foi como se ouvisse Júlio Verne narrando sua volta ao mundo em oitenta dias... Ilusionista, não acha? Alguém teria visto a cachoeira da Pedra da Glória repleta de turistas?


Vista parcial do açude da coruja, a partir do loteamento caico's / Foto: Gregório (arquivo pessoal)

Arara é assim, simples como um alvorecer, é mais uma esquina do mundo. Tão pacata que, até Padre Ibiapina viajou 895 quilômetros a cavalo para morrer aqui. Dizem que ele e Padre Leonardo continuam celebrando durante as madrugadas em Santa Fé...


Portal do santuário de Santa Fé, com a capela no segundo plano / Foto: Gregório (arquivo pessoal)


Escrevo e reescrevo, metodicamente. Misturam-se as ideias, as emoções, busco o plano ideal, preparo no teclado a oração que mais embeleze o matiz de realce desse recanto do mundo. Pensei no alto do Catolé, no Serrote Branco, na Santa Fé e até no Riacho da Extrema, contudo, qual seria a mais bela tomada para retratar esta cidade através das lentes da minha objetiva? Talvez nenhuma... Ou todas?!


Vista parcial de Arara para contempla-a do santuário de Santa Fé / Foto: Gregório (arquivo pessoal)


Sigo adiante, restaurando minhas lembranças pela Rua Bela Vista, bela paisagem na rua de nome bonito, outra característica da cidade de Arara, não sem antes contemplar o horizonte delineado no mar que banha as costas da ilha de ilusões que domina o universo masculino, enquanto este aprendiz de escritor, a custa de muito esforço, consegue conter os ímpetos que rotulam esse universo incompreensível, fruto dos caprichos da natureza.


Fachadas das residências ararenses, as melhorias são visíveis... Foto: Gregório (arquivo pessoal)

Bom, com licença... Uma pausa para contemplação da morena que passa na calçada ao lado, bastou ela retardar o passo para congestionar meus pensamentos, fiquei retido no tempo...


Em Arara é assim! Pode contemplar... (Foto gentilmente cedida para este blog)

Para melhor explicar o que significa escrever tão pouco sobre essa imensa beleza, vou revelar alguns costumes aqui da terrinha ensolarada: aplaudir o que é belo, cantarolar os infortúnios, aproveitar as oportunidades, atravessar os áureos anos com o menor esforço, pedir a bênção da padroeira nas tardes de 8 de setembro, depois de muito 'farrear' durante os três dias anteriores, e, dentre tantas beldades conhecidas, escolher a mocinha mais casta para jurar-lhe amor eterno (pelo ao menos, enquanto dure...). A receita do sucesso é falar pouco e observar muito!

Assim vivemos e para que mudar se está dando certo?

É claro que este meu texto se apresenta reduzido no contraponto com a realidade. No plano do mundo real, a vida aqui na terrinha não se resume apenas a isto. Outras prosas invadem as ruas e seguem, de porta em porta, chamando o dono da casa para interpretá-las... Nesse mundo real, onde “A vida é como rapadura... Doce, porém dura”, existem aqueles que fazem toda a diferença: os conterrâneos ararenses.


Depois de uma manhã de muito trabalho, Gabriel e o Galego seguem para o merecido almoço... (foto gentilmente cedida para este blog)

Como se não bastasse, a cidade de Arara sempre produziu (ainda produz) muitos boçais, a exemplo de Josué da Cruz, único exemplar de bebum que, depois de morto, virou celebridade no mundo reduzido dos políticos locais.


Quiosques no largo da Matriz: Padre Ibiapina deve estar se retorcendo no túmulo... foto: Gregório (arquivo pessoal)


E nem adianta as esposas começarem a reclamar! Nos bares e botecos da feira-livre, eles continuam tomando ‘bicadas de cana’ e praticando o esporte favorito: jogar conversa fora. Isso inclui fofocas e intrigas, política, filosofia, economia, futebol e até ‘cornilanças’ e ‘chifranças’.

Espólio do finado Antonio Duarte, a casa que já pertenceu a um governador da Paraíba, hoje abriga uma funerária, um 'cassino' e um bar. Coisas que só se via nas novelas da globo... foto: Gregório (arquivo pessoal)

Arara é assim mesmo... Às vezes ela é antiga, outras é moderna, eventualmente até contemporânea, não adianta ninguém se desesperar. Aqui há um jeito próprio de andar, de vestir e de se falar (principalmente quando se fala mal... dos outros).

Pessoas na praça, entre uma conversa e outra, aproveita-se muito bem o tempo livre... foto: Gregório (arquivo pessoal)

Arara, que beleza de lugar!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Arara, 50 anos e 3 personagens... Uma homenagem mais que merecida!

    No aniversário de meio século da história de Arara, três figuras humanas merecem todas as honrarias: Zé Bigode, Padre Leonard de Vissers e Padre Lambert de Goot.

Zé Bigode (de frente) e Padre Leonardo (à direita) numa celebração de batismo.
 
 
    O tempo é um artesão de emoções. Convertido em memória revela a extensão dos nossos sonhos, decepções, expectativas, alegrias e materializa abstrações, no sortilégio de mantermos vivas as experiências que nos são mais caras. Pois bem, nas solenidades desta semana, como que revive 50 anos da vida do nosso município enquanto ente federativo da esfera estadual nos leva a recordar as pessoas que de fato ajudaram a construir essa história, e, inevitavelmente, nos transporta à Arara do início da década de 60, quando o então distrito vivenciava tempos de paz e alguns habilidosos senhores faziam da Câmara Municipal de Serraria um laboratório para suas futuras incursões sócio-políticas, a exemplo do Marísio Moreno, Zé Duarte, João Melo e Bastos da Farmácia.

    Em ambientes semelhantes, na capital paraibana, outros "abnegados" com uma visível vocação política, já ensaiavam os primeiros passos no labirinto da Assembléia Legislativa numa infindável negociação para que o projeto de lei que nos concedia a emancipação política fosse aprovado ainda em 1961.

    Que não estamos falando de uma realidade desprovida de importância, isto está claro. Afinal, os tempos já haviam sido mais difíceis: tempos em que os interesses partidários sobrepunham-se aos coletivos e perdemos a primeira grande oportunidade ainda em agosto de 1953, quando Pilões, finalmente fora emancipado e Arara continuou atrelada ao domínio administrativo de Serraria, mesmo já sendo maior e mais acessível do que a sede. Foram tempos em que as velhas oligarquias coronelistas nordestinas, também serviam de modelos para as famílias Lira, Cunha e Baracuhy, representantes da conservadora sociedade pilonense, aliadas aos serrarienses, por razões obvias, não demonstravam nenhum interesse pela causa da nossa emancipação.
Anésio Deodônio Moreno: Nas décadas de 30 a 50, foi uma personalidade de destaque no distrito de Arara

    Finalmente em 19 de dezembro de 1961, depois de muitas negociações político/partidária com o Governador Pedro Moreno Gondim, ocorreu à instalação do novo município, esses momentos decisivos da história, encontram-se narrados no 1º livro de atas da "Casa de Josué da Cruz", no qual consta o termo de presença do Juiz de Direito da Comarca de Serraria, Dr. Miguel Levino, presidindo a seção de instalação do novo município, comprovando a falta de carinho e zelo dos nossos representantes políticos na esfera estadual.

    Não nos parece demasiado afirmar, que até o prefeito interinamente nomeado, Sr. Dedício Pereira Maia, provavelmente influenciado pelos caprichos da sua esposa que era de Pilões, demonstrava um descabido desprezo pelo novo município, não reconhecendo a grandeza do ato jurídico para o desenvolvimento do antigo distrito, inclusive, logo após esse mandato temporário, o Sr. Dedício Maia, juntamente com seus familiares migrou para João Pessoa e parece ter esquecido permanentemente esta terra.

    Não surpreende, aliás, que a história do nosso município contenha tal percalço. Afinal, apesar de ela ter começado num momento singularmente importante da vida nacional, as nossas lideranças políticas locais não foram nem um pouco ousadas no sentido de aproveitar a fase de modernidade que o Brasil vivenc
iava.

    Arara se emancipou nos tempos do alvorecer de Brasília, da ascensão política de Jânio e Jango, da fundação das ligas camponesas, dos movimentos feministas, da beathemania, da jovem-guarda e até da conquista do espaço pelos soviéticos e norte-americanos. Enquanto o mundo fervilhava em movimentos cosntantes por mudanças estruturais, Arara apenas mudava o seu status de Distrito de Serraria para Município Sede emancipado, não tendo conseguido sua comarca, que só chegou em 2006, nem sequer sua paróquia, que só foi conseguida em 1987.

    Aqueles eram tempos de um salto industrial sem precedentes no eixo Rio-São Paulo, porta de entrada para os nossos jovens trabalhadores. Enquanto isso, aqui na terrinha, vivíamos o nosso limitado auge da produção algodoeira, sisaleira, de amendoim, alho e feijão, além de um florescimento extraordinário no plano comercial com destaque para os negócios das famílias Duarte, Bandeira, Bento, Freire e Santos Leal e outros tantos de menor expressão local.

    Nesse cenário agrícola-comercial, o prefeito Dedício Pereira Maia, governou por apenas 1 ano como determinava o ato de sua nomeação, já em 1963 repassou o poder para Marísio Moreno, primeiro prefeito eleito em 07 de outubro do ano anterior, sendo uma figura muito importante desde a época do antigo distrito, pela maneira educada com a qual tratava as pessoas, e principalmente, por ter dois irmãos “doutores”, além dele ser um latifundiário e líder maior da UDN, facção política da qual fazia parte.

Marísio Moreno ao lado dos representantes da antiga UDN/ARENA/PDS (Com o Dep. estadual Afrânio Bezerra)

 

    Durante o seu mandato, Marísio Moreno, tomou sérias medidas administrativas que desagradaram muito aos comerciantes da recém-criada cidade, dentre as mais impopulares, consta a transferência da feira livre para o local atual, que naquela época era visto em 3D (despovoado, distante e desfavorável), além da proibição de se criar animais soltos nas ruas recém-calçadas. Graças a essas medidas impopulares, Marísio Moreno jamais conseguiu eleger-se prefeito, mesmo assim, continuou liderando a política partidária local pelas próximas três décadas.

 

Construção do Mercado Público em 1963: mudança da feira desagradou aos comerciantes.


    O Segundo prefeito eleito de Arara, apoiado por Marísio Moreno, foi o comerciante Joaquim Pereira de Morais (Joaquim Zone). Interessante notar que mesmo sendo semi-analfabeto, este prefeito teve uma atenção especial para com a educação neste município, ao contrário de Marísio que apesar de não ser formado, era muito bem informado, Joaquim Zone mal sabe assinar o próprio nome. Numa época em que Arara dispunha de apenas três escolas formais, Joaquim Zone, duplicou esse número construindo outras três (triângulo, Serrote Branco e Riacho Fundo). Provavelmente por reconhecer sua própria deficiência educacional.
 

Joaquim Zone (de camisa azul) e Marísio Moreno

    Foi na substituição de Joaquim Zone que se deu a grande mudança. Em uma eleição bastante disputada foi eleito o senhor Reginaldo Azevedo do Nascimento (Zé Sobrinho), ex-presidente da Câmara e sobrinho do ex-vice prefeito Manoel Cândido. Embora tenha sido aliado de Marísio Moreno na sua primeira eleição, Zé Sobrinho agora era integrante do outro grupo político, um grupo que tinha um viés mais popular e que era formado, também, pelas famílias Duarte e Freire. Zé Sobrinho já havia sofrido uma derrota em 1966, para Joaquim Zone, e como naquela época, os Generais-Presidentes haviam criado a figura jurídica da legenda e a sub-legenda, a junção dos votos do MDB 1 com o MDB 2, deu a vitória ao jornalista Zé Sobrinho, em 25 de outubro de 1969, com 302 votos. Naquela eleição, começava a surgir no cenário político municipal, aquele que viria a ser o mais humilde dentre todos os prefeitos da nossa história, refiro-me a Zé Bigode.

Zé Bigode em 1976

    Em 15 de novembro de 1972, novas eleições ocorreram em Arara. E neste pleito, Zé Bigode foi derrotado pela segunda vez por uma diferença de 115 votos (829 a 714), em favor de Joaquim Zone, que mais uma vez representava o partido dos generais-presidentes, e assim ocupou pela segunda vez a cadeira de Prefeito.

Posse de Bigode em 15 de março de 1977

    Quatro anos depois, em 1976, partindo de uma aliança com a família Bandeira, Zé Bigode obteve 1589 votos derrotando o candidato oficial (Geraldo Guarda) que alcançou apenas 659. Em seu primeiro mandato, Bigode, seguindo uma tendência natural, continuou com seu estilo populista de muita assistência econômica à população, tendo se destacado, também, pelo incentivo que deu ao futebol, construindo o campo que ainda hoje serve aos praticantes dessa modalidade esportiva.

    Com relação ao resto da história, dos prefeitos eleitos a partir de 1982, brevemente voltarei a tratar desse assunto em outra postagem.

    Para não fugir do tema, já que pretendo homenagear três figuras exponenciais da história da nossa cidade, deter-me-ei preferencialmente na atuação político-pessoal de Zé Bigode, essa figura humana irrepreensível, cuja ocupação primordial tem sido nos últimos 50 anos, de uma forma ou de outra, aliviar a dor dos que mais sofrem, com uma conversa franca e ligeiramente agradável, mesmo depois que encerrou suas atividades de farmacêutico, continua acalentando as pessoas nos momentos mais delicados da vida, ou seja, até no leito de morte de quem quer que seja, Bigode se faz presente, prática, aliás, que se tornou um hábito rotineiro para ele desde há muito.

    O ato de evocar uma figura como a do nosso ex-farmacêutico (para muitos, quase um médico!) e por duas vezes prefeito, provoca especial emoção, principalmente, porque a despeito da gravidade dos seus atos (aplicar injetáveis e até receitar), de homem sobre cujos ombros pareciam pesar permanentemente o sentimento do mundo – para repetir o poeta Drummond – Bigode era o simples. Um simples que nunca hesitou em sair pedalando um ciclomotor para aplicar um medicamento injetável num “paciente” que se encontrava enfermo e sem possibilidade alguma de locomoção.



Zé Bigode foi farmacêutico em Arara por quase meio século

    Um simples que continuou “receitando e aplicando seus injetáveis” mesmo depois de tornar-se prefeito numa terra onde não existiam hospitais, muito menos médicos, a não ser o seu amigo pessoal padre e paramédico Lamberto de Groot.

Zé Bigode, Santa e Padre Lamberto: uma parceria duradoura e com muitos resultado


    Talvez seja por isso, que ainda hoje sobrevive sua peculiar presença de espírito na memória viva de todos aqueles que viveram nas décadas de 60 a 80, em Arara, e como forma de gratidão pelos seus esforços no sentido de aliviar a dor do corpo que atormentava os mais carentes, estes o retribuíram com o reconhecimento do mais profundo e recôndito compartimento da alma, reconduzindo-o pela segunda vez para governar os destinos da cidade. Outros igualmente também repetiram esse feito, mas a emoção não foi e nunca será a mesma que se teve com Bigode.

    Entretanto, não podemos falar na simplicidade de Bigode, sem relembrar do extraordinário trabalho social dos Padres Lamberto e Leonardo.
 

Padre Leonardo: morava em Santa Fé e ajudava muito a comunidade carente de Arara

     
    Apenas para exemplificar a dimensão social do trabalho desses dois religiosos, numa época em que aqui, não se falava no Sistema Financeiro de Habitação, nem muito menos no programa “Minha casa, minha vida”, aqueles foram tempos marcados pela parceria do padre Leonardo de Vissers com Zé Bigode possibilitando o sonho da casa própria, para centenas de famílias que migravam da zona rural em busca de melhores condições de vida na cidade.

Padre Lamberto e Zé Bigode, numa rara aparição em eventos sociais.


    Aliás, essa foi uma ação nítida de construção de muitas artérias que compõem o cenário urbano atual, a exemplo da Balbino Alexandre, Nossa Senhora da Piedade, Antonio Francisco da Silva, Antonio Felipe de Arruda, considerando que através de uma iniciativa pessoal do Padre Leonardo, este doava o terreno e os tijolos e a ação social da Prefeitura entrava com o telhado e os pedreiros, restando aos beneficiários, apenas a mão-de-obra auxiliar.

    Mas, sobretudo, foram os tempos da ação social mais impactante do Padre Lamberto, com a implantação de uma maternidade ao lado da Igreja Matriz, onde hoje se encontra a casa paroquial. Tempos marcados pela relativa facilidade na busca pelo auxílio das parturientes, para aqueles que viram a luz solar nesta terrinha já na segunda metade da década de 70. A partir da iniciativa do Padre Lamberto, as futuras mamães ararenses já não mais corriam riscos desnecessários sob a proteção das dedicadas comadres parteiras, pois agora tinham à disposição uma maternidade.

    Tempos difíceis foram aqueles... Tão difíceis ao ponto de sensibilizar aqueles missionários holandeses, que após uma longa estada na África, aqui chegaram e como permaneceriam nesta terra até completarem o ciclo natural da vida, se empenharam pessoalmente para ajudar aos mais necessitados, sem nada pedir em troca.

    Vale salientar que além das ações sociais voltadas para a saúde e moradia, o padre Leonardo também se mostrou preocupado com a educação e implantou muitos projetos de qualificação profissional em Santa Fé. Apenas para citar alguns exemplos, no casarão do Padre Ibiapina, funcionavam oficinas para formação de marceneiros, serralheiros, torneiros mecânicos, carpinteiros, pedreiros, eletricistas e artesãos, onde muitos ararenses aprenderam uma profissão que ainda hoje a exercem. Além dessas oficinas, haviam as granjas para criação de frangos e porcos, a casa de farinha comunitária e a usina de beneficiamento de milho.



    Por fim, vale lembrar que ambos os missionários eram totalmente avessos a quaisquer tipos de manifestações políticas, inclusive por serem estranjeiros, mas... no íntimo do coração de cada um deles, nos momentos em que ambos se recolhiam para fazer elevar suas preces aos céus, certamente não era este modelo de cidade que eles pediriam a Deus, onde os mais pobres continuam sendo ludibriados com a política do "pão e circo" e a elite continua insensível aos problemas sociais.

    Na verdade, ainda estamos vivenciando os tempos da imaturidade, em que temos como referência na área da saúde, a cidade de Campina Grande e a “ambulançoterapia” desempenha um papel fundamental na manutenção e multiplicação do prestígio dos detentores plantonistas do poder. Até quando teremos que conviver com essa situação vexatória?

    Como disse no início deste texto, na data em que Arara completa 50 anos de história, todas as homenagens deveriam ser prestadas para essas três figuras extraordinárias que muito contribuíram para aliviar o sofrimento de quem mais precisava.

    Se o nosso povo tivesse o mínimo de gratidão e reconhecimento pelas inúmeras ações sociais dessas figuras humanas extraordinárias, especialmente em memória aos padres holandeses que não mais se encontram entre nós, independentemente do aspecto religioso, já teria erguido um monumento em praça pública em homenagem a cada um deles.