sábado, 15 de setembro de 2012

Fim de uma era

Zé Sobrinho: visionário ou um homem à frente do seu tempo?


          Com o falecimento do ex-prefeito Reginaldo Azevedo do Nascimento (Zé Sobrinho), perto dos oitenta anos de vida, homem culto, político educado e de uma figura humana de agradável lembrança, provavelmente desaparece um dos últimos representantes de uma época de ouro da política 'puro-sangue' em Arara. Não que hoje não mais existam políticos que defendam uma só bandeira por toda uma vida, não estou tratando disso, absolutamente este não é meu intento. 

 Uma multidão se aglomerou em frente ao local onde Zé Sobrinho fez os mais brilhantes discursos da sua vida.

          O que quero lembrar é que ele, foi um dos poucos ararenses que durante meio século de militância política, por algumas vezes mudou as estratégias, porém jamais arredou um único centímetro dos seus inabaláveis princípios éticos e sempre defendeu aquilo em que mais acreditava, ou seja, sua confiança incontestável na alternância da chefia do executivo, como meio mais viável para o desenvolvimento da nossa comunidade.

            O fato é que a geração do Bacharel Zé Sobrinho foi pioneira e ousada quando Arara apenas ensaiava os primeiros passos, logo depois da sua emancipação frente aos domínios de Serraria. Numa época em que não se falava em convênios com a FUNASA, Zé Sobrinho fez concluir a maior obra de saneamento de toda a nossa história e que até hoje ainda serve a todos, todos os dias

          Refiro-me à obra do abastecimento d'água, captada na depressão situada à barlavento da Chã de Santa Tereza e encanada para todas as artérias da nossa cidade. Como diria Natanael Alves, foi a redenção da nossa gente e o ato de aposentadoria dos jumentos de Sinésio. Por outro lado, nesses quarenta anos percorridos desde a inauguração da adutora, quase nada foi feito para ampliá-la, exceto a substituição da tubulação no início da década de 90, passando a seguir o traçado da rodovia PB-105, obra pífia, diga-se de passagem, muito aquém do esperado.

            Aqui em Arara, naquele venturoso 30 de novembro de 1969, quando Zé Sobrinho foi eleito prefeito, de um total de 1.438 eleitores, apenas 913 pessoas compareceram às urnas, e destes 302 sufragaram o seu nome para governar o município, que somados aos 164 votos de Zé Bigode, foram suficientes para derrotar os 328 atribuídos a candidatura de Marísio Moreno apoiada pelo então Prefeito Joaquim Zone. Em plena efervescência da ditadura militar, os Generais implantaram o sistema do bipartidarismo, através do qual poderiam haver diversas sublegendas, tanto do partido do governo, quanto da oposição, Zé Sobrinho era o representante de uma sublegenda da oposição, ao tempo que Marísio Moreno representava o partido do governo. 



Um dos raros momentos de solidariedade entre aliados e adversários políticos, dois ex-prefeitos (Zé Bigode e Joaquim Zone) carregam o também ex-prefeito Zé Sobrinho outrora ferrenho adversário de Joaquim.  No segundo plano da foto, (logo após Joaquim) encontram-se o ex-vereador Joinha e Antonio Pintor.

         Foi tempo de muitos embates políticos e indagações, cujas respostas e soluções respondem muito bem pela atual fase político-partidária vivenciada em nosso município, onde disputam a cadeira do executivo, dois novatos no cenário majoritário, sendo que um deles substituirá a partir de janeiro vindouro, o último baluarte daquela geração de políticos gestada ainda no terceiro quartel Século XX.

       No governo de Zé Sobrinho (1970-1973) em Arara, tivemos uma nova modalidade de administração pautada pela ética e extrema organização, entretanto foi sufocado pela oposição ferrenha liderada por Marísio Moreno e a bancada oposicionista na câmara. Dentre os remanescentes (ainda vivos), são dessa época, os antigos correligionários de Zé Sobrinho, Zé Bigode, Ercy Medeiros, Anísio Duarte e Antonio Pintor e dentre aqueles que lhe fizeram oposição, podemos citar, Joaquim Zone, Bibiu, Cordeiro e Antonio Cambista. Quase todos estiveram hoje dando o último adeus ao ex-prefeito.

         É imperativo acrescentar que Zé Sobrinho foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores de Arara, e além de ter sido eleito Vereador em 1962 e Prefeito em 1969, foi Secretário de Administração da Prefeitura de Solânea (Governo de Valdomiro Rocha) e Arara (Governo Ernesto 1), ainda concorreu ao cargo de Prefeito em 1966, 1982, 1988, 1992, sempre por partido de oposição e Vereador em 2008, todos sem êxito, porém isto não fez a menor diferença no tocante aos seus ideais de um homem de coragem.

         Nessa seara política, Zé Sobrinho não deixou sucessores capazes de dar segura continuidade, efetiva e afetiva ao seu tão precioso legado. Aliás, no ocaso dos seus dias, foi traído por seus próprios correligionários. Porém seu esforço não foi em vão. Sua vocação de servir se uniu às predisposições de muitos outros ararenses, e dessa abençoada inspiração floresceu um novo ideal, e assim continuaremos a lutar pela alternância do poder.

Um dos momentos mais emocionantes: O cortejo segue lentamente através das ruas que ele tanto cuidou...


          Descanse em paz, meu amigo, seu legado continuará vivo em nossa terra.


domingo, 9 de setembro de 2012

Para nós ararenses, o que é uma festa cívica?

 Estamos perdendo o interesse por nossa memória histórica?
  
 Arara (PB) Resgate da memória: Desfile cívico de 7 de setembro de 1966 . (Imagem acervo Família Moreno)


         Na manhã de hoje, caminhando pelas ruas do centro da cidade, no espaço destinado à principal festa do calendário anual de Arara, fiquei horas observando como o comportamento das pessoas pode se apresentar indiferente diante de uma brusca interrupção dos tradicionais desfiles cívicos das escolas do município, que por  meio século, a cada dia 7 de setembro, compunham o cenário do evento festivo no período matutino, inclusive com a incômoda alvorada às 5 horas da manhã.

Arara (Rua Solon de Lucena) Não parece, mas estamos no dia 7 de setembro de 2012  às 11h30.
      
         Em plena manhã de sete de setembro, no centro da cidade, tive a impressão que estávamos dois dias adiantados no calendário gregoriano, até parecia que já estávamos no dia seguinte ao término das festividades da padroeira.

       Precisamente, às 11h30 da manhã do 7 de setembro, os organizadores desse evento de gigantescas proporções para os nossos padrões locais, ainda não haviam conseguido fazer a cidade entrar no clima de festa, tão costumeiro todos os anos, e com a supressão dos famigerados desfiles cívicos, por falta de patrocínio do governo municipal. Essa iniciativa da Prefeitura Municipal de reter os recursos para o custeio dos desfiles, apesar de louvável, bem que poderia ter sido suprida com outros eventos para preencher o vazio do "Dia da Independência". Para nosso espanto, mesmo sem nenhuma atração durante todo o período da manhã do dia 7, a rotina dos ararenses parecia inabalável. Até parecia que o que interessava mesmo ao povo era ver o 'samba' funcionando!

         'Samba' armado na Rua Hermes Lira: O brinquedo que surgiu na década de 90... Para nós ainda é novidade!


        Diante de pouco mais de uma dúzia de transeuntes, entre nativos e 'turistas', que transitavam entre um amontoado de parques antigos, que mais se pareciam com sucatas dos antigos brinquedos, fiquei parado sem entender direito o que estava acontecendo (aliás, não aconteceu nada!) com a organização do nosso evento maior. 

         Onde seria que se encontrava o nosso alcaide por aquelas horas? 

         O que será que estava acontecendo com as mentes pensantes do governo municipal no ocaso da atual administração? 

        Será que os nossos governantes estão 'emburrecendo' ou as festividades de rua perderam o sentido da sua existência?

      Pois bem, nesta manhã, visando entender o que outras pessoas estavam pensando sobre esta brusca situação de ruptura de uma tradição que se repetiu por exatos 50 anos, iniciei uma conversar com uma pessoa que nasceu exatamente em 1962, juntamente com os primeiros desfiles cívicos realizados pelas ruas de nossa cidade.

         Para minha surpresa, meu interlocutor ignorou completamente a ausência da festa cívica, tratando de temas dos mais variados interesses, abordando desde o seu desejo de se tornar caminhoneiro, mesmo após os 50 anos de vida, (aliás, um sonho que alimenta desde criança), até a lembrança do seu falecido pai, passando por conflitos familiares e pelo tema mais comentado no momento: a política-partidária. Falou-se de tudo, menos da ausência dos tradicionais desfiles cívicos.

Arara (Rua Padre Ibiapina): dia 07set2012, as pessoas parecem apáticas com a ausência dos desfiles cívicos.

         Não satisfeito com o posicionamento apático do meu primeiro interlocutor, despedi-me e fui em busca de outro que se apresenta como o oposto de tudo o quanto penso e faço, exceto por um detalhe: este faz parte da minha geração. A exemplo do primeiro, este também não deu a mínima atenção a ausência das comemorações alusivas à Semana da Pátria e apenas comentou sobre o amontoado de parques velhos que ainda 'levam o dinheiro do povo', através da insistência das crianças. Para não fugir à regra, os assuntos mais fluentes foram a política-partidária local e o lamento por não ter disponibilidade financeira suficiente para  consumir bebidas com altos teores alcoólicos na noite anterior. Diante de tal lamento, nada mais havia a tratar naquele momento.

Arara, 07set2012: Palco principal da festa da padroeira

        Pensei que melhor seria mudar a forma de abordagem, e assim acessei uma rede social para pedir a opinião de outro interlocutor que tem apenas metade da idade dos anteriores. Perguntei qual era sua opinião sobre a festa da padroeira deste ano. Este prontamente respondeu que não havia gostado das atrações disponibilizadas gratuitamente pelo Governo Municipal, porém, não escreveu nenhuma palavra sobre a ausência dos tradicionais desfiles cívicos. Depois disso, escreveu sobre seu empenho pessoal na venda de bilhetes para um sorteio promovido pelo pároco local, em benefício da igreja católica e também do assunto mais comentado no momento. Pelo visto, as comemorações alusivas a festa cívica aqui em Arara, estão condenadas ao esquecimento.

Arara(PB) Resgate da memória: Desfile cívico de 7 de setembro de 1984 (Foto: acervo pessoal)


        Como historiador, não poderia deixar de esclarecer que os desfiles das escolas têm o objetivo de difundir e incrementar o civismo, na mente das gerações futuras, além de promover e incentivar o culto aos símbolos nacionais, preservando a memória das figuras ilustres da nossa história. Vale salientar que em muitos Estados da federação, principalmente, nos fronteiriços, a exemplo do Rio Grande do Sul, este ano, a semana da pátria começou desde o dia 19 de agosto, organizada por ONGs que percorreram 250 municípios gaúchos, com uma pira simbólica carregada por atletas que participam da corrida do fogo, como forma de reforçar os laços de civismo. Mais isso já é outra história...

         Arara, 7set2012: Rua Solon de Lucena, mesmo local da fotografia anterior, 28 anos depois... Quanta diferença!

           Seja lá como for, o fato é que aqui em Arara não existem ONGs para realizar este tipo de evento e se não houver um aporte financeiro da Prefeitura Municipal, o evento simplesmente não se realiza. Caso ainda haja alguém que já esteja saudosista com a ausência dos desfiles cívicos, resta o consolo de saber que de hoje há trinta dias, conheceremos o novo alcaide de Arara.
    
          O interessante é notar que o candidato que representa a continuidade da administração atual, parece  não ter planos para alavancar este evento de meio século de existência na nossa comunidade. Nesse sentido, pelo ao menos, não existe uma vírgula sequer em seu plano de governo.

          Agora só nos resta esperar para ver quais serão as mudanças que a população desejará que se faça a partir de janeiro do ano vindouro. Ambos os pretendente se apresentam como novos, porém só o tempo se encarregará de mostrar quem de fato representa o novo.