Zé Sobrinho: visionário ou um homem à frente do seu tempo?
Com
o
falecimento
do ex-prefeito
Reginaldo Azevedo do Nascimento (Zé Sobrinho),
perto dos oitenta
anos
de vida, homem
culto, político educado e de uma figura humana de agradável lembrança, provavelmente
desaparece um dos últimos representantes de uma época de ouro da
política
'puro-sangue' em
Arara.
Não que hoje não mais
existam políticos que defendam uma só bandeira por toda uma vida,
não estou tratando disso, absolutamente este não é meu intento.
O
que quero lembrar
é que ele, foi um dos poucos
ararenses
que
durante
meio século de militância política,
por
algumas vezes
mudou as estratégias, porém jamais arredou um único centímetro
dos seus inabaláveis
princípios
éticos
e sempre defendeu aquilo em que mais acreditava, ou seja, sua
confiança incontestável
na
alternância da chefia do executivo,
como meio mais
viável
para o desenvolvimento da
nossa
comunidade.
O fato é que a geração do Bacharel Zé Sobrinho foi pioneira e ousada quando Arara apenas ensaiava os primeiros passos, logo depois da sua emancipação frente aos domínios de Serraria. Numa época em que não se falava em convênios com a FUNASA, Zé Sobrinho fez concluir a maior obra de saneamento de toda a nossa história e que até hoje ainda serve a todos, todos os dias.
Refiro-me
à obra do abastecimento d'água, captada na
depressão situada à barlavento
da Chã de Santa Tereza e encanada para todas
as
artérias
da
nossa
cidade.
Como
diria Natanael Alves, foi a redenção da nossa gente e o ato de
aposentadoria dos jumentos de Sinésio. Por
outro lado, nesses
quarenta anos
percorridos
desde a inauguração da adutora,
quase
nada foi feito para ampliá-la, exceto
a substituição da tubulação no início da década de 90, passando
a seguir o traçado da rodovia PB-105,
obra
pífia, diga-se de passagem, muito
aquém
do esperado.
Aqui
em Arara, naquele venturoso 30
de novembro de 1969, quando Zé Sobrinho foi eleito prefeito, de um
total de 1.438 eleitores, apenas 913 pessoas compareceram às urnas,
e destes 302 sufragaram o seu nome para governar o município, que
somados aos 164 votos de Zé Bigode, foram suficientes para derrotar
os
328 atribuídos a
candidatura de Marísio Moreno apoiada pelo então Prefeito Joaquim
Zone. Em
plena efervescência da ditadura militar, os Generais implantaram
o sistema do bipartidarismo, através do qual poderiam haver diversas
sublegendas, tanto do partido do governo, quanto da oposição, Zé
Sobrinho era o representante de uma sublegenda da oposição, ao
tempo que Marísio Moreno representava o partido do governo.
Um dos raros momentos de solidariedade entre aliados e adversários políticos, dois ex-prefeitos (Zé Bigode e Joaquim Zone) carregam o também ex-prefeito Zé Sobrinho outrora ferrenho adversário de Joaquim. No segundo plano da foto, (logo após Joaquim) encontram-se o ex-vereador Joinha e Antonio Pintor.
Foi
tempo de muitos
embates
políticos
e indagações, cujas respostas e soluções respondem muito bem pela
atual fase político-partidária
vivenciada em nosso município,
onde disputam
a
cadeira do executivo,
dois novatos
no
cenário majoritário, sendo
que um
deles substituirá
a partir de janeiro vindouro, o último baluarte daquela geração de
políticos gestada ainda no terceiro quartel Século XX.
No
governo de Zé Sobrinho (1970-1973) em Arara,
tivemos
uma nova modalidade de administração pautada pela ética e extrema
organização, entretanto
foi
sufocado pela oposição ferrenha liderada por Marísio Moreno e a
bancada oposicionista na câmara. Dentre
os remanescentes (ainda vivos), são
dessa época, os
antigos correligionários de Zé Sobrinho,
Zé
Bigode, Ercy
Medeiros, Anísio Duarte e Antonio Pintor e dentre
aqueles que
lhe fizeram oposição, podemos
citar,
Joaquim
Zone, Bibiu,
Cordeiro e Antonio Cambista. Quase
todos estiveram hoje dando o último adeus ao ex-prefeito.
É
imperativo acrescentar que Zé
Sobrinho foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores de Arara,
e além de ter sido eleito Vereador em 1962 e Prefeito em 1969, foi
Secretário de Administração da Prefeitura de Solânea (Governo de
Valdomiro Rocha) e Arara (Governo Ernesto 1),
ainda concorreu ao cargo de Prefeito em 1966, 1982, 1988,
1992, sempre por partido de oposição e Vereador em 2008, todos sem
êxito, porém
isto não fez a menor diferença no tocante aos seus ideais de um
homem de coragem.
Nessa
seara política, Zé Sobrinho não
deixou sucessores capazes de dar segura continuidade, efetiva e
afetiva ao
seu
tão precioso legado. Aliás,
no ocaso dos seus dias, foi traído por seus próprios
correligionários. Porém seu esforço não foi em vão. Sua
vocação de servir se uniu às predisposições de
muitos outros ararenses,
e dessa abençoada inspiração
floresceu um novo ideal,
e assim continuaremos a lutar pela alternância do poder.
Um dos momentos mais emocionantes: O cortejo segue lentamente através das ruas que ele tanto cuidou...
Descanse
em paz, meu amigo, seu legado continuará vivo em nossa terra.