sábado, 4 de agosto de 2012

O que é que Arara tem?


Que o sol escaldante da Paraíba favorece o desenvolvimento de poetas surpreendentemente dotados de criatividade, como Jessier Quirino e Zé Limeira, disto ninguém duvida! Agora, o que poucos sabem é que aqui na ‘terrinha’, aformoseado pela brisa lacustre do 'açude da rua', existe um verdadeiro discípulo do 'poeta do absurdo', embora use uma nova roupagem em suas poesias.
Trata-se do cordelista Josemar Cândido, que a exemplo do seu mestre inspirador (Zé Limeira, 1886-1954), também aborda em suas poesias temas variados que às vezes chegam às fronteiras do delírio, considerando a sua ‘cômoda situação’ como cidadão profissionalmente realizado. 
Nos cordéis de Josemar, (devido a sua posição alinhada aos governantes locais), a política tem sido um tema recorrente (como os nossos leitores já tiveram oportunidade de constatar aqui no blog), mas, inspirado em Zé Limeira, o nosso cordelista ararense certamente ficará notório por suas distorções sociológicas e pelas poesias recheadas de surrealismo. Neste ponto, o nosso artista, fielmente reproduz a arte de Zé Limeira.
Agora, com mais esta criação poética, o nosso "Zé Limeira de Arara", usou e abusou da criatividade ao construir uma septilha, cujas estrofes (raras, diga-se de passagem!) de sete versos, são muito difíceis de serem construídas. 
Aliás, este também era o estilo usado pelo 'poeta do absurdo' e pelo qual ficou famoso. Para quem não lembra das aulas de Língua Portuguesa, na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro, assim como fez Josemar, também franco admirador do contemporâneo Jessier Quirino.
Conhecendo Josemar como o conheço, não duvido nada que dia desses, ele comece a fazer usos dos neologismos esdrúxulos, além de mudar radicalmente suas impecáveis indumentárias, que atualmente em nada lembram o mais popular filho da Serra de Teixeira. 
Somente para esclarecer aos nossos leitores, o poeta Zé Limeira sempre vestia-se de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando e versando. 
Como aqui no blog estamos sempre valorizando aqueles que fazem parte da nossa história, nada mais justo que fazer publicar o cordel deste professor que também é um patrimônio intelectual do nosso município.

Cuidado eleitor (por Josemar Cândido)
   
A campanha começou
Devemos nos preparar
Pra escolher os políticos
Que vão nos representar
Eles devem ter valor
Por isso caro eleitor
Tenha cuidado ao votar










O voto é valioso

E por isso é secreto
Precisa ser conferido
A um político correto
Que pense também no povo
Seja ele velho ou novo
E que tenha bons projetos
 

O voto só fortalece
A nossa democracia
Que anda enfraquecida
Por causa da covardia
Da sujeira e da maldade
Que mancha a sociedade
Nos tirando a alegria


O voto aqui no Brasil
Surgiu depois de Cabral
Quando o país vivia
Regime colonial
Porém tornou-se mais sério
Durante o Brasil Império
Com a lei eleitoral




Mas daquelas eleições
Só ricos participavam
O voto era censitário
Apenas ricos votavam
E nestes tempos atrás
De fraudes eleitorais
Muitos políticos roubavam
   


O voto pra presidente
Veio com a Constituição
De 1891
Feita na ocasião
A mulher votou depois
Em 1932
Na nova legislação

A atual legislação
Obriga-nos a votar
É um direito de todos
Obrigação popular
Se o eleitor sumir
O governo vai punir
E seu direito cassar
 
Se o eleitor não vota
Em três seguidas seções
Sem contar nada a justiça
Sofrerá umas sanções
No CPF e em concurso
Ficando sem fazer curso
Em certas instituições


É de grande importância
O processo eleitoral
E não deve ser tratado
De maneira tão banal
Reflete a democracia
Mas pode ser uma baixaria
Assunto pra tribunal


A baixaria começa
No dia da convenção
É político se vendendo
Pra fazer coligação
Negociando legenda
Sem que o povo entenda
Nada da situação




Negociando o partido
Acaba a ideologia
E vai minando o princípio
Da frágil democracia
Que o Brasil pôde criar
E tenta consolidar
Lutando-se a cada dia



O partido é uma entidade
E uma instituição
Precisa ser preservado
De toda corrupção
Símbolo da democracia
Reflete a ideologia
De uma organização




Cuidado com os políticos
Que respondem a processo
Pois estes são motivo
De atraso e retrocesso
Não trazem prosperidade
Destroem a nossa cidade
São entraves do progresso

Em quem tem a ficha suja
Jamais podemos votar
Pois somente o eleitor
Pode o político cassar
Livrar da corrupção
A nossa rica nação
Que eles querem usurpar


 
Se a Lei da ficha limpa
O político não barrou
E político ficha suja
O tribunal liberou
Só na hora de votar
Nós podemos afastar
O político que errou



Essa Lei ainda é nova
E não tem jurisprudência
Ficando algumas cortes
Sem a máxima competência
Para julgar sobre o tema
O que gera um problema
Uma afronta à decência

Já que a falada Lei
Virou assunto banal
Aprovando a eleição
De candidato ilegal
Vai a vontade do povo
Ser transformada de novo
Em vergonha nacional


Devemos ficar atentos
Às irregularidades
Vista em candidatos
Da nossa sociedade
Que tornam o nosso Brasil
Em um lugar sem brio
Marco da impunidade





Os políticos são daqui
E não de outro planeta
É um produto do povo
De sua escolha mal feita
Sua responsabilidade
Fruto da sociedade
Que ele pouco respeita



Cuidado com candidatos
Que são de ocasião
E aparecem apenas
Às vésperas da eleição
São pessoas sem respeito
Que querem tirar proveito
De qualquer situação





Existe um crime comum
No universo brasileiro
Praticado livremente
No período eleitoreiro
Um crime eleitoral
Visto de forma banal
Fato simples, corriqueiro

 
Comprar votos é crime
Uma conduta ilegal
Como está exposto
No código eleitoral
Uma prática indecente
De político incompetente
Desonesto e imoral















Vender o voto também

É um ato criminoso
Uma atitude ilegal
Comportamento danoso
É falta de senso crítico
Que acostuma o político
Cria um ciclo vicioso


Aquele que vende o voto
Vende sua consciência
Faz mal a sociedade
Afasta-se da decência
Faz do processo eleitoral
Um comércio ilegal
Leva o Brasil a falência


O político é corrupto
Mas o povo é também
Quando sonega imposto
Não declara o que tem
Nem cumpre a constituição
Não se sente cidadão
E não se comporta bem



Os políticos são produtos
Da nossa sociedade
Criados no seio do povo
Refletem sua vontade
São por parte odiados
Por outra parte amados
Vivem em meio a falsidade


 A você, caro eleitor
Que prestou bem atenção
Nestes versos simples
Feitos com emoção
E é pessoa direita
Que todas as leis respeita
Peço-lhe o meu perdão

A você que é político
E que sabe trabalhar
Faz sua campanha bem feita
E não tenta a lei burlar
Uma coisa eu lhe peço:
O que disse nestes versos
Queira desconsiderar



Se atingi a alguém
Queira me desculpar
Fiz estes versos tentando
O eleitor alertar
Pra que nesta campanha
Não caia em artimanha
Na hora que for votar








Agradeço ao leitor
Por vossa nobre atenção
Por ter lido esses versos
E pela compreensão
De um cordelista amador
Que faz versos com amor
E com muita emoção