Que
o sol escaldante da Paraíba favorece o desenvolvimento de poetas surpreendentemente dotados de criatividade, como Jessier Quirino e Zé
Limeira, disto ninguém duvida! Agora, o
que poucos sabem é que aqui na ‘terrinha’, aformoseado pela brisa lacustre do 'açude da rua', existe um verdadeiro discípulo do 'poeta do absurdo', embora use uma nova
roupagem em suas poesias.
Trata-se
do cordelista Josemar Cândido, que a exemplo do seu mestre inspirador (Zé
Limeira, 1886-1954), também aborda em suas poesias
temas variados que às vezes chegam às fronteiras do delírio, considerando a sua
‘cômoda situação’ como cidadão profissionalmente realizado.
Nos cordéis de Josemar, (devido a sua posição alinhada aos
governantes locais), a política tem sido um tema recorrente (como os nossos
leitores já tiveram oportunidade de constatar aqui no blog), mas, inspirado em
Zé Limeira, o nosso cordelista ararense certamente ficará notório por suas
distorções sociológicas e pelas poesias recheadas de surrealismo. Neste ponto, o nosso artista, fielmente reproduz a arte de Zé Limeira.
Agora, com mais esta criação poética, o nosso "Zé Limeira de Arara", usou e abusou da criatividade ao construir uma septilha, cujas estrofes (raras, diga-se de passagem!) de sete versos, são muito difíceis de serem construídas.
Aliás, este também era o estilo usado pelo 'poeta do absurdo' e pelo qual ficou famoso. Para quem não lembra das aulas de Língua Portuguesa, na septilha usa-se o estilo de rimar os
segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o
primeiro e o terceiro, assim como fez Josemar, também franco admirador do contemporâneo Jessier Quirino.
Conhecendo Josemar como o conheço, não duvido nada que dia
desses, ele comece a fazer usos dos neologismos esdrúxulos, além de mudar radicalmente
suas impecáveis indumentárias, que atualmente em nada lembram o mais popular filho da Serra de Teixeira.
Somente para esclarecer aos nossos leitores, o poeta Zé Limeira sempre vestia-se
de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos, e saía
pelos caminhos de sua vida, cantando e versando.
Como aqui no blog estamos sempre valorizando aqueles que fazem parte da nossa história, nada mais justo que fazer publicar o cordel deste professor que também é um patrimônio intelectual do nosso município.
Cuidado
eleitor (por Josemar Cândido)
A campanha
começou
Devemos nos
preparar
Pra escolher
os políticos
Que vão nos
representar
Eles devem
ter valor
Por isso
caro eleitor
Tenha
cuidado ao votar
E por isso é
secreto
Precisa ser
conferido
A um
político correto
Que pense
também no povo
Seja ele
velho ou novo
E que tenha
bons projetos
O voto só
fortalece
A nossa
democracia
Que anda
enfraquecida
Por causa da
covardia
Da sujeira e
da maldade
Que mancha a
sociedade
Nos tirando
a alegria
O voto aqui
no Brasil
Surgiu
depois de Cabral
Quando o
país vivia
Regime
colonial
Porém
tornou-se mais sério
Durante o
Brasil Império
Com a lei
eleitoral
Mas daquelas
eleições
Só ricos
participavam
O voto era
censitário
Apenas ricos
votavam
E nestes
tempos atrás
De fraudes
eleitorais
Muitos
políticos roubavam
O voto pra
presidente
Veio com a
Constituição
De 1891
Feita na
ocasião
A mulher
votou depois
Em 1932
Na nova
legislação
A atual
legislação
Obriga-nos a
votar
É um direito
de todos
Obrigação
popular
Se o eleitor
sumir
O governo
vai punir
E seu
direito cassar
Se o eleitor
não vota
Em três
seguidas seções
Sem contar
nada a justiça
Sofrerá umas
sanções
No CPF e em
concurso
Ficando sem
fazer curso
Em certas
instituições
É de grande
importância
O processo
eleitoral
E não deve
ser tratado
De maneira
tão banal
Reflete a
democracia
Mas pode ser
uma baixaria
Assunto pra
tribunal
No dia da
convenção
É político
se vendendo
Pra fazer
coligação
Negociando
legenda
Sem que o
povo entenda
Nada da situação
Negociando o
partido
Acaba a
ideologia
E vai
minando o princípio
Da frágil
democracia
Que o Brasil
pôde criar
E tenta
consolidar
Lutando-se a
cada dia
E uma
instituição
Precisa ser
preservado
De toda
corrupção
Símbolo da
democracia
Reflete a
ideologia
De uma
organização
Cuidado com
os políticos
Que
respondem a processo
Pois estes
são motivo
De atraso e
retrocesso
Não trazem
prosperidade
Destroem a
nossa cidade
São entraves
do progresso
Em quem tem
a ficha suja
Jamais
podemos votar
Pois somente
o eleitor
Pode o
político cassar
Livrar da
corrupção
A nossa rica
nação
Que eles
querem usurpar
Se a Lei da
ficha limpa
O político
não barrou
E político
ficha suja
O tribunal
liberou
Só na hora
de votar
Nós podemos
afastar
O político
que errou
Essa Lei
ainda é nova
E não tem
jurisprudência
Ficando
algumas cortes
Sem a máxima
competência
Para julgar
sobre o tema
O que gera
um problema
Uma afronta
à decência
Já que a
falada Lei
Virou
assunto banal
Aprovando a
eleição
De candidato
ilegal
Vai a
vontade do povo
Ser
transformada de novo
Em vergonha
nacional
Às
irregularidades
Vista em
candidatos
Da nossa
sociedade
Que tornam o
nosso Brasil
Em um lugar
sem brio
Marco da
impunidade
Os políticos
são daqui
E não de
outro planeta
É um produto
do povo
De sua
escolha mal feita
Sua
responsabilidade
Fruto da
sociedade
Que ele
pouco respeita
Que são de
ocasião
E aparecem
apenas
Às vésperas
da eleição
São pessoas
sem respeito
Que querem tirar
proveito
De qualquer
situação
Existe um
crime comum
No universo
brasileiro
Praticado
livremente
No período
eleitoreiro
Um crime
eleitoral
Visto de
forma banal
Fato
simples, corriqueiro
Comprar
votos é crime
Uma conduta
ilegal
Como está
exposto
No código
eleitoral
Uma prática
indecente
De político
incompetente
Desonesto e
imoral
Vender o
voto também
É um ato
criminoso
Uma atitude
ilegal
Comportamento
danoso
É falta de
senso crítico
Que acostuma
o político
Cria um
ciclo vicioso
Vende sua
consciência
Faz mal a
sociedade
Afasta-se da
decência
Faz do
processo eleitoral
Um comércio
ilegal
Leva o
Brasil a falência
O político é
corrupto
Mas o povo é
também
Quando
sonega imposto
Não declara
o que tem
Nem cumpre a
constituição
Não se sente
cidadão
E não se
comporta bem
Os políticos
são produtos
Da nossa
sociedade
Criados no
seio do povo
Refletem sua
vontade
São por
parte odiados
Por outra
parte amados
Vivem em
meio a falsidade
Que prestou
bem atenção
Nestes
versos simples
Feitos com
emoção
E é pessoa
direita
Que todas as
leis respeita
Peço-lhe o
meu perdão
A você que é
político
E que sabe
trabalhar
Faz sua
campanha bem feita
E não tenta
a lei burlar
Uma coisa eu
lhe peço:
O que disse
nestes versos
Queira
desconsiderar
Se atingi a
alguém
Queira me
desculpar
Fiz estes
versos tentando
O eleitor
alertar
Pra que
nesta campanha
Não caia em
artimanha
Na hora que
for votar
Agradeço ao
leitor
Por vossa
nobre atenção
Por ter lido
esses versos
E pela compreensão
De um
cordelista amador
Que faz
versos com amor
E com muita
emoção