segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Os patres famílias e a feira de Arara...

Pátrio externo do mercado público de Arara: dez/2012

Desde a segunda metade do séc. XIX, a maior parte dos patres famílias ararenses cultivou um saudável costume de 'resguardar' a segunda-feira, quase como um dia santificado. Os motivos para tanto, já se perderam nas memórias, o fato é que a cada semana, o sábado poderia até ser considerado um dia normal de trabalho, porém, a nossa segunda-feira era 'sagrada'... Desde 1872, este é o dia destinado a organização espontânea da nossa feira livre, ocorrência que já virou tradição aqui na terrinha. 


 feira do peixe: funciona semanalmente no mesmo local desde a década de 1960...

O ambiente espaço-temporal da feira livre de Arara, era como uma festa, principalmente nas décadas de 1960, 70 e 80, quando havia um maior movimento, com o empurra-empurra e esbarrões entre as centenas de pessoas juntas entre as vielas formadas pelos bancos da feira, geralmente ao redor do mercado público, todos aspirando uma mistura de odores, com destaque para peixes, temperos, carnes diversas, verduras,  frutas e muita gente suada. Nem mesmo os dias chuvosos nos tiravam o prazer de escolher um a um os  camarões, sardinhas, pedaços de carne de sol, mocotó de boi, temperos e legumes, devidamente acomodados nos carrinhos de mão guiados pelos carroceiros/fretistas que faziam pontos ao lado do mercado, tudo isso representava momentos de extrema alegria.


Pátio externo do mercado: outrora, este era o ponto de maior fluxo de pessoas na feira

Nos últimos tempos, durante as raríssimas vezes que tenho ido a feira livre, observo com tristeza que ela não é mais a mesma. Os patriarcas estão desaparecendo do cenário e os seus descendentes já não demonstram tanto interesse assim nos bancos da feira... Que pena! Você, caro leitor, é capaz de se lembrar como eram deliciosas as 'geladas de Pedrão' lá na porta do Mercado? 


Antigo armazém de Cicero Felix, cujos atividades foram descontinuadas no final dos anos 80...

  • E os picolés de Liguinha?
  • E as cocadas de seu João do doce?
  • E os bombons de Zé da Laranja?
  • E os amendoins de Carestia?
  • E dos kichutes de Nino Peba?
  • E das bolas canarinho de Nino Duarte?
  • E para os mais velhos, lembram como eram divertidos os bares de Arara nos finais das tardes das segundas-feiras?
  • E de uma 'certa casa' na Tourinho Moreno?
Os bares da feira das frutas: até aqui o movimento é restrito...

Atualmente a parcela dos ararenses que frequenta a feira vem diminuindo a cada ano, a alegria das pessoas também, e consequentemente, o faturamento dos feirantes está sendo prejudicado. Neste momento, há que se perguntar... Por que a feira de Arara, se reduziu tanto?

Os bares da feira dos calçados: outrora grande movimento, hoje em um visível declínio...

Numa análise superficial, poderíamos afirmar que foi o surgimento de centenas de 'mercadinhos' e supermercados. Mas... Como se explica o fechamento do tradicional "Supermercado Bandeirantes" em plena segunda-feira?


Supermercado Bandeirantes: Funcionou durante três décadas e encerrou suas atividades em 2012.

Para aqueles que leem regularmente este blog, sinto muito ter que desapontar-lhes ao discordar dessa análise superficial, porém, ouso seguir em outra direção... Tenho constatado que para a infelicidade geral de todos nós ararenses, foram as mulheres, e principalmente, as feirantes que mudaram... e para pior. 


Agora as freguesas são bastante seletivas na hora de escolher um banco para comprar na feira...

As freguesas, não querem mais ter o trabalho de se deslocarem para as ruas mal calcetadas no entorno do mercado e as feirantes, perderam a inocência e a ingenuidade, adotando atitudes que culminaram com o afastamento da freguesia, principalmente do público masculino (pater familias), que perdeu o entusiasmo e o rentável hábito de ir a feira de Arara. 


Imagem rara na feira, um homem pedindo desconto a uma feirante...

Ora, ir a feira livre era um motivo de puro divertimento e agradável satisfação. Alguém já observou  que os homens não acompanham mais suas esposas na feira de Arara? E que quando acompanham estão sempre sérios, contrariados e até pedindo um menor preço... (parece absurdo mas é isso mesmo...) pechinchando!!! O que não é comportamento compatível com o DNA do macho-alfa. Homem  pechinchando na feira... que surpresa, hein?

Mas... também, ir á feira, para que? Ver o que? Conversar com quem?

Para responder a estes questionamentos, procurei conversar com alguns velhos frequentadores da feira de Arara, quando na oportunidade diziam-me (sob condição de sigilo absoluto da fonte), que as feirantes de outros tempos eram mais divertidas, engraçadas, impetuosas, simpáticas, animadas e se orgulhavam da própria beleza.
 Cenas como esta de um 'patriarca' fazendo compras, são cada vez mais raras na feira de Arara.


Lembraram que nos bons tempos da feira de Arara, com muita determinação e alegria as feirantes, vestindo aquelas lindas e exuberantes roupas justas, ao perceberem a aproximação de um potencial freguês se abaixavam para arrumar suas mercadorias no banco, permitindo-se uma visão panorâmica das mais 'inocentes' silhuetas. Algumas de contornos enormes, outras nem tanto, umas com seios voluntariosos, quase saltando para fora da blusa, outras diminutas, minúsculos, que exigiam mais atenção e participação especial, pois o freguês tinha que parar (fingir que examinava alguma fruta), mas com atenção e esmero tentando descobrir mesmo eram 'outras frutas', aquelas muito mais diminutas e apetitosas.
















E quando a feirante notava essa devotada atenção do seu potencial freguês, se recompunha, mas não de maneira brusca e ofensiva, e sim, com aquele 'meio sorriso', 'cheio de inocência', 'puro', 'sem qualquer maldade'. Esse jogo de pura sensualidade, sem dúvida alguma era o responsável por grande parte do faturamento dos bancos da feira livre. Alguns homens até só iam à feira em busca 'delas'.

É claro que os meus informantes faziam questão de comprar alguma coisa nos melhores bancos da feira. Quanto mais a feirante se esforçava nesse jogo inocente, mais os fregueses compravam suas mercadorias. Os meus informantes também admitiram que, mesmo que não precisassem, tinham que parar e comprar alguma coisa, aquilo é que era comprar compulsivamente! Aquilo é que era feira livre boa, operada por feirantes competentes!!!!



O apurado (faturamento) dos bancos que eram 'gerenciados' por mulheres simpáticas e inteligentes era grande, consequentemente, os lucros eram bons, enfim, todos ganhavam, a alegria coletiva e a felicidade geral.

Os patriarcas ararenses consideravam as segundas-feiras como um dos melhores e agradáveis momentos da vida. Quando chegavam na feira não queriam mais sair. Saiam de um banco, em busca de outro na esperança de encontrarem um bem melhor. Ocupavam todo o tempo, apreciando mercadorias de muito valor.


E os homens? Os feirantes?






Feirante inteligente, esperto e dinâmico jamais iria trabalhar sem levar consigo, as irmãs, a esposa e as filhas. Chegavam todos juntos à feira, com muita alegria, toda família unida, exemplos de um velho bonus pater familias romano. Após arrumarem os bancos, colocavam-se as mercadorias em exposição, e em seguida, os homens davam aquela 'escapulida clássica' e se dirigiam para outra área da feira (jogar baralho, biriba ou bozó ou ainda beber cana), deixando para as mulheres a responsabilidade de aumentarem o apurado do dia. 



Lugar de feirante inteligente era no bar bebendo cachaça, jogando sinuca ou bozó, ou ainda paquerando com um séquito de profissionais da noite. Era assim que muitos feirantes participavam com entusiasmo e muita compreensão do desenvolvimento da feira livre de nossa cidade.

Retomando a questão do profissionalismo das comerciantes da feira, pergunto a você leitor: E a arte da apresentação e oferta das laranjas e goiabas? Atualmente é uma arte esquecida. O desaparecimento dessa arte é um dos males que tem provocado a decadência paulatina dos bancos da feira.

Quando uma feirante pegava daquele jeito uma laranja, uma goiaba ou até mesmo uma banana ou uma cenoura... Olhava para os fregueses e os ofereciam, perguntando se não queriam comprar... Certamente um calafrio de volúpia e satisfação sacudia todo o corpo dos perplexos compradores.

E como eram profissionais aquelas feirantes de outros tempos...

Hoje as feirantes não tem mais aquela inocente ingenuidade. Na feira livre de Arara, há falta de boas e agradáveis mercadorias para se ver e comprar e isto termina desviando a atenção e o interesse dos fregueses com percepções negativas sobre a feira, destruindo o encanto de um espaço que outrora era considerado 'quase sagrado' por nossos antepassados. 

Agora, ao caminhar pela feira livre de Arara, ao invés de nos encontrarmos com rostos divinos e sorrisos angelicais, o que percebemos é a carranca das pessoas, o preço alto das mercadorias,  a sujeira e o insuportável mau cheiro dos banheiros do mercado.

Claro que tudo isso sempre existiu na feira, porém os patriarcas de outrora nem percebiam, pois as feirantes embelezavam o espaço e não deixavam que a atenção e sentidos fossem desviados para pensamentos negativos.

Ao publicar este texto, tenho a esperança de que um dia, voltemos a nos entusiasmar e desejar semanalmente ir à feira livre de Arara, principalmente os machos-alfas que ao se encantarem por uma 'boa mercadoria', transformam-se em compradores compulsivos, nem que seja, para tomar uma 'gelada lá na barraca de Pedrão Marmota'...


domingo, 18 de novembro de 2012

Eleições de novo?


               2014, 2016, 2018, 2020...

Por Heráclito Medeiros*


Votar é um direito muito importante para nossa sociedade, o Brasil é um modelo no ato de votar, mais como fica a democracia? O TRE não diplomou nem os eleitos, e já se falam em eleições de 2014, de 2016 e até em 2020.
No Brasil a cada dois anos temos eleições, ou melhor, passou uma eleição já se falar em outra. E se votar é muito importante para a democracia, podemos concluir que o brasileiro está participando cada vez mais e melhor da vida política de nosso município, do nosso estado e do nosso país. Mais podemos desejar que apenas o ato de votar no dia da eleição vai resolver os problemas do nosso município?
Talvez uma coisa nada tenha haver com outra, ou seja, nem sempre uma coisa concorre necessariamente para outra. Mesmo porque a participação política não se reduz ao simples 'ato do voto', ou às campanhas políticas, ou ir ao dia das eleições votar. Podemos imaginar que os eleitos não tiveram tempo de colocar em prática seus projetos, e já se criar várias possibilidades para as futuras eleições. Mais como fica o povo nisso tudo?
O nosso Zé Limeira local (Josimar Cândido), já demonstrou em seus versos que “a baixaria começa no dia da convenção, é políticos se vendendo negociando legenda sem que o povo entenda nada da situação”. Isso é uma verdade, o povo quase sempre não quer entender de nada. Quando digo isso, estou mim referido a grande parte da população que não deseja saber de nada sobre a política. Mais você saber o que é política?
Nas várias maneiras de se compreender o que seja política, aos constantes casos de corrupção envolvendo políticos, que são repercutidos com destaque pela mídia, é muitas vezes acreditamos está longe de nossa cidade, e a nossa pouca experiência com a democracia. Podemos notar que hoje em Arara existe uma grande parcela da população sem interesse pela política, e pelos políticos locais.
Ainda em “Cuidado eleitor”, Josimar comenta da obrigatoriedade do voto, sobre a penalidades em deixar de votar, onde o povo vai sofre com as punições 'aplicadas' pelos governos contra os cidadãos que não desejam participar da política. Ainda bem que no Brasil não existe a pena de morte, poderia o castigo ser a morte para quem deixasse de votar...
Historicamente o índice de ausentes nas eleições é enorme, e tende em aumentar a cada pleito, só para se ter uma ideia, nas eleições desse ano em Arara, deixaram de votar 2.253 eleitores, em 2008, o quantitativo foi de 1.593 eleitores. Será que isso é um protesto? Ou apenas faltar de interesse pela política? ou os eleitores não querem fazer parte da escolha dos governantes da nossa cidade?
Ainda assim, meu caro amigo Josimar, os partidos são instituições muito importantes para o processo político, mas já diz o dito popular “partido só de cana-de-açúcar”. Só os fichas sujas ou ficha limpa, seria uma coisa muito boa essa história se funcionasse para limpa a política. As vezes em seus versos notei apenas o seu desejo que o povo de Arara votasse em seu candidato.
Nós tínhamos o poder da escolha, embora 25% dos eleitores tenham deixado de votar, devemos lembrar que no Brasil o voto ainda é mesmo obrigatório. É o pior que temos também a obrigatoriedade na propaganda política no rádio, na TV, nas ruas muitos papel, pintura e som. Tudo isso, sem ninguém perguntar se queremos ou não participar das campanhas eleitorais. O mais engraçado que nessa época parece que os políticos estão no BBB eleitoral, que suas vidas são julgadas como forma de se ganhar ou perder votos, esquecendo-se a capacidade de cada um exercer sua futura função (ou não!).
Uma coisa é certa, é um fato, 'o homem é um animal político', segundo Aristóteles. Mesmo quando dissemos que não gostamos de política, ou da politicagem, estamos dentro da política, querendo ou não intervir nos acontecimentos, tendo importância ou não na participação nos atos políticos. Também a omissão é um ato político. Sendo assim, que venham as próximas eleições, que vai ser uma festa.

       

             *Heráclito Medeiros é licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba.

sábado, 6 de outubro de 2012

Qual animal você é? A imperdoável cegueira ideológica dos ararenses




        
            O Partido do Movimento Democrático Brasileiro de Arara está prestes a desembarcar do poder. Seu 'crocodilo-mor' ocupou este papel por intensos três mandados, 1997-2000 / 2005-2012, intercalando com a 'vaca' do PFL que teve dois mandatos, lá se foram duas décadas, com apenas dois homens ocupando a cadeira da chefia do executivo municipal. Aliás, essa dualidade entre dois grupos que se revezam no poder, vem desde sempre em nossa história política de meio século. Nas três primeiras décadas, com os grupos de Marísio e Joaquim, e nas duas seguintes, com Biruca e Ernesto. Vale lembrar que durante a ditadura militar, um 'pinguim' ensaiou a tomada do poder, porém, sua permanência na cadeira de prefeito, foi muito breve.

        Treze anos depois que o 'pinguim' foi ejetado do assento na Prefeitura, com a vergonhosa interrupção do mandato de Moacir Jerônimo, em 1987, e a vitória de Zé Bigode sobre Biruca, o nanico PL, foi alçado a condição de partido do chefe do executivo por pura conveniência política, sem que o então prefeito tivesse nenhuma identidade partidária ou ideológica. Depois disso, o pefelismo ganhou a prefeitura em 1992 e desde essa data, faz um "revezamento 4 x 4" com o peemedebismo, numa dobradinha que deliberadamente forçou os ararenses a serem adjetivados de “vacas” e “jacarés”.

          Nas eleições seguintes, algumas espécies exóticas tentaram ingressar nesse zoológico improvisado. A exemplo de tucanos, elefantes, tigres, ursos e até os gatos esperaram pela chance de se apresentar como alternativa confiável ao eleitor. Essa bicharada, sempre esteve muito longe do governo, mas nem por isso deixou de sonhar com ele. Durante todos esses anos, nenhum deles sofreu do natural desgaste do poder, também não conviveu com a incômoda frustração que assombra os duelistas da arena particular criada por 'vacas' e 'jacarés'. Como se constata, um jovem que hoje tenha 20 anos de idade, jamais conheceu outro prefeito que não seja, um representante pefelista (vaca) ou peemedebista(jacaré) diante das reduzidas opções animalescas, que parece não nos deixar livres para escolher.


                      Dividido entre 'vacas' e 'jacarés' desde 1992, o povo de Arara assiste nestas eleições à emergência de atores alternativos nesse zoológico imaginário. Numa espécie de terceira via, eis que surgem os novos atores, que muitos se esforçam em adjetivá-los como 'coelhos' e 'macacos'. Seja lá como for, o fato é que a partir de 1º de janeiro do próximo ano, 'vacas' e 'jacarés' serão colocados na estante dos animais empalhados e uma nova dualidade surgirá. Saliente-se que até o final da tarde do domingo (dia 07) os radares dos analistas estarão irrequietos e as bolas de cristal de videntes embaçadas.

          Até às 17 horas do dia da eleição, não há como se prevê os resultados que abalarão a política municipal (como a vitória de Zé Sobrinho, então no MDB, abalou Arara, em 1969). Seja quais forem os resultados, estes certamente promoverão solavancos na base de sustentação do atual prefeito Zé Ernesto (jacaré) que deverá tomar um novo rumo a caminho da oposição para o pleito de 2016.


        As mais recentes sondagens eleitorais, apontam que teremos surpresas no cenário político municipal, entretanto, ainda nos parece pouco para uma dupla de bichos que há 20 anos domina a política local. A votação de Domiciano Cabral, Olenka Maranhão e Tião Gomes, em 2010, já era reflexo disso. Ainda embarcarão nessa histeria da polarização somente os mais fanáticos: os que odeiam os discutíveis métodos dos 'crocodilos' e os que se ressentem das patadas da 'vaca'.


        Enquanto isso, o maior interessado nessa história (o povo), na verdade, não passa de uma massa de manobra, formada por inúmeros 'inocentes úteis', que idolatraram por muito tempo, 'vacas' e 'jacarés'. Isto sim, é um fato que ficará para sempre manchado na história de Arara, pela cegueira com que estes 'inocentes úteis' se agarraram durante duas décadas a posições ideológicas insustentáveis.






sábado, 15 de setembro de 2012

Fim de uma era

Zé Sobrinho: visionário ou um homem à frente do seu tempo?


          Com o falecimento do ex-prefeito Reginaldo Azevedo do Nascimento (Zé Sobrinho), perto dos oitenta anos de vida, homem culto, político educado e de uma figura humana de agradável lembrança, provavelmente desaparece um dos últimos representantes de uma época de ouro da política 'puro-sangue' em Arara. Não que hoje não mais existam políticos que defendam uma só bandeira por toda uma vida, não estou tratando disso, absolutamente este não é meu intento. 

 Uma multidão se aglomerou em frente ao local onde Zé Sobrinho fez os mais brilhantes discursos da sua vida.

          O que quero lembrar é que ele, foi um dos poucos ararenses que durante meio século de militância política, por algumas vezes mudou as estratégias, porém jamais arredou um único centímetro dos seus inabaláveis princípios éticos e sempre defendeu aquilo em que mais acreditava, ou seja, sua confiança incontestável na alternância da chefia do executivo, como meio mais viável para o desenvolvimento da nossa comunidade.

            O fato é que a geração do Bacharel Zé Sobrinho foi pioneira e ousada quando Arara apenas ensaiava os primeiros passos, logo depois da sua emancipação frente aos domínios de Serraria. Numa época em que não se falava em convênios com a FUNASA, Zé Sobrinho fez concluir a maior obra de saneamento de toda a nossa história e que até hoje ainda serve a todos, todos os dias

          Refiro-me à obra do abastecimento d'água, captada na depressão situada à barlavento da Chã de Santa Tereza e encanada para todas as artérias da nossa cidade. Como diria Natanael Alves, foi a redenção da nossa gente e o ato de aposentadoria dos jumentos de Sinésio. Por outro lado, nesses quarenta anos percorridos desde a inauguração da adutora, quase nada foi feito para ampliá-la, exceto a substituição da tubulação no início da década de 90, passando a seguir o traçado da rodovia PB-105, obra pífia, diga-se de passagem, muito aquém do esperado.

            Aqui em Arara, naquele venturoso 30 de novembro de 1969, quando Zé Sobrinho foi eleito prefeito, de um total de 1.438 eleitores, apenas 913 pessoas compareceram às urnas, e destes 302 sufragaram o seu nome para governar o município, que somados aos 164 votos de Zé Bigode, foram suficientes para derrotar os 328 atribuídos a candidatura de Marísio Moreno apoiada pelo então Prefeito Joaquim Zone. Em plena efervescência da ditadura militar, os Generais implantaram o sistema do bipartidarismo, através do qual poderiam haver diversas sublegendas, tanto do partido do governo, quanto da oposição, Zé Sobrinho era o representante de uma sublegenda da oposição, ao tempo que Marísio Moreno representava o partido do governo. 



Um dos raros momentos de solidariedade entre aliados e adversários políticos, dois ex-prefeitos (Zé Bigode e Joaquim Zone) carregam o também ex-prefeito Zé Sobrinho outrora ferrenho adversário de Joaquim.  No segundo plano da foto, (logo após Joaquim) encontram-se o ex-vereador Joinha e Antonio Pintor.

         Foi tempo de muitos embates políticos e indagações, cujas respostas e soluções respondem muito bem pela atual fase político-partidária vivenciada em nosso município, onde disputam a cadeira do executivo, dois novatos no cenário majoritário, sendo que um deles substituirá a partir de janeiro vindouro, o último baluarte daquela geração de políticos gestada ainda no terceiro quartel Século XX.

       No governo de Zé Sobrinho (1970-1973) em Arara, tivemos uma nova modalidade de administração pautada pela ética e extrema organização, entretanto foi sufocado pela oposição ferrenha liderada por Marísio Moreno e a bancada oposicionista na câmara. Dentre os remanescentes (ainda vivos), são dessa época, os antigos correligionários de Zé Sobrinho, Zé Bigode, Ercy Medeiros, Anísio Duarte e Antonio Pintor e dentre aqueles que lhe fizeram oposição, podemos citar, Joaquim Zone, Bibiu, Cordeiro e Antonio Cambista. Quase todos estiveram hoje dando o último adeus ao ex-prefeito.

         É imperativo acrescentar que Zé Sobrinho foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores de Arara, e além de ter sido eleito Vereador em 1962 e Prefeito em 1969, foi Secretário de Administração da Prefeitura de Solânea (Governo de Valdomiro Rocha) e Arara (Governo Ernesto 1), ainda concorreu ao cargo de Prefeito em 1966, 1982, 1988, 1992, sempre por partido de oposição e Vereador em 2008, todos sem êxito, porém isto não fez a menor diferença no tocante aos seus ideais de um homem de coragem.

         Nessa seara política, Zé Sobrinho não deixou sucessores capazes de dar segura continuidade, efetiva e afetiva ao seu tão precioso legado. Aliás, no ocaso dos seus dias, foi traído por seus próprios correligionários. Porém seu esforço não foi em vão. Sua vocação de servir se uniu às predisposições de muitos outros ararenses, e dessa abençoada inspiração floresceu um novo ideal, e assim continuaremos a lutar pela alternância do poder.

Um dos momentos mais emocionantes: O cortejo segue lentamente através das ruas que ele tanto cuidou...


          Descanse em paz, meu amigo, seu legado continuará vivo em nossa terra.


domingo, 9 de setembro de 2012

Para nós ararenses, o que é uma festa cívica?

 Estamos perdendo o interesse por nossa memória histórica?
  
 Arara (PB) Resgate da memória: Desfile cívico de 7 de setembro de 1966 . (Imagem acervo Família Moreno)


         Na manhã de hoje, caminhando pelas ruas do centro da cidade, no espaço destinado à principal festa do calendário anual de Arara, fiquei horas observando como o comportamento das pessoas pode se apresentar indiferente diante de uma brusca interrupção dos tradicionais desfiles cívicos das escolas do município, que por  meio século, a cada dia 7 de setembro, compunham o cenário do evento festivo no período matutino, inclusive com a incômoda alvorada às 5 horas da manhã.

Arara (Rua Solon de Lucena) Não parece, mas estamos no dia 7 de setembro de 2012  às 11h30.
      
         Em plena manhã de sete de setembro, no centro da cidade, tive a impressão que estávamos dois dias adiantados no calendário gregoriano, até parecia que já estávamos no dia seguinte ao término das festividades da padroeira.

       Precisamente, às 11h30 da manhã do 7 de setembro, os organizadores desse evento de gigantescas proporções para os nossos padrões locais, ainda não haviam conseguido fazer a cidade entrar no clima de festa, tão costumeiro todos os anos, e com a supressão dos famigerados desfiles cívicos, por falta de patrocínio do governo municipal. Essa iniciativa da Prefeitura Municipal de reter os recursos para o custeio dos desfiles, apesar de louvável, bem que poderia ter sido suprida com outros eventos para preencher o vazio do "Dia da Independência". Para nosso espanto, mesmo sem nenhuma atração durante todo o período da manhã do dia 7, a rotina dos ararenses parecia inabalável. Até parecia que o que interessava mesmo ao povo era ver o 'samba' funcionando!

         'Samba' armado na Rua Hermes Lira: O brinquedo que surgiu na década de 90... Para nós ainda é novidade!


        Diante de pouco mais de uma dúzia de transeuntes, entre nativos e 'turistas', que transitavam entre um amontoado de parques antigos, que mais se pareciam com sucatas dos antigos brinquedos, fiquei parado sem entender direito o que estava acontecendo (aliás, não aconteceu nada!) com a organização do nosso evento maior. 

         Onde seria que se encontrava o nosso alcaide por aquelas horas? 

         O que será que estava acontecendo com as mentes pensantes do governo municipal no ocaso da atual administração? 

        Será que os nossos governantes estão 'emburrecendo' ou as festividades de rua perderam o sentido da sua existência?

      Pois bem, nesta manhã, visando entender o que outras pessoas estavam pensando sobre esta brusca situação de ruptura de uma tradição que se repetiu por exatos 50 anos, iniciei uma conversar com uma pessoa que nasceu exatamente em 1962, juntamente com os primeiros desfiles cívicos realizados pelas ruas de nossa cidade.

         Para minha surpresa, meu interlocutor ignorou completamente a ausência da festa cívica, tratando de temas dos mais variados interesses, abordando desde o seu desejo de se tornar caminhoneiro, mesmo após os 50 anos de vida, (aliás, um sonho que alimenta desde criança), até a lembrança do seu falecido pai, passando por conflitos familiares e pelo tema mais comentado no momento: a política-partidária. Falou-se de tudo, menos da ausência dos tradicionais desfiles cívicos.

Arara (Rua Padre Ibiapina): dia 07set2012, as pessoas parecem apáticas com a ausência dos desfiles cívicos.

         Não satisfeito com o posicionamento apático do meu primeiro interlocutor, despedi-me e fui em busca de outro que se apresenta como o oposto de tudo o quanto penso e faço, exceto por um detalhe: este faz parte da minha geração. A exemplo do primeiro, este também não deu a mínima atenção a ausência das comemorações alusivas à Semana da Pátria e apenas comentou sobre o amontoado de parques velhos que ainda 'levam o dinheiro do povo', através da insistência das crianças. Para não fugir à regra, os assuntos mais fluentes foram a política-partidária local e o lamento por não ter disponibilidade financeira suficiente para  consumir bebidas com altos teores alcoólicos na noite anterior. Diante de tal lamento, nada mais havia a tratar naquele momento.

Arara, 07set2012: Palco principal da festa da padroeira

        Pensei que melhor seria mudar a forma de abordagem, e assim acessei uma rede social para pedir a opinião de outro interlocutor que tem apenas metade da idade dos anteriores. Perguntei qual era sua opinião sobre a festa da padroeira deste ano. Este prontamente respondeu que não havia gostado das atrações disponibilizadas gratuitamente pelo Governo Municipal, porém, não escreveu nenhuma palavra sobre a ausência dos tradicionais desfiles cívicos. Depois disso, escreveu sobre seu empenho pessoal na venda de bilhetes para um sorteio promovido pelo pároco local, em benefício da igreja católica e também do assunto mais comentado no momento. Pelo visto, as comemorações alusivas a festa cívica aqui em Arara, estão condenadas ao esquecimento.

Arara(PB) Resgate da memória: Desfile cívico de 7 de setembro de 1984 (Foto: acervo pessoal)


        Como historiador, não poderia deixar de esclarecer que os desfiles das escolas têm o objetivo de difundir e incrementar o civismo, na mente das gerações futuras, além de promover e incentivar o culto aos símbolos nacionais, preservando a memória das figuras ilustres da nossa história. Vale salientar que em muitos Estados da federação, principalmente, nos fronteiriços, a exemplo do Rio Grande do Sul, este ano, a semana da pátria começou desde o dia 19 de agosto, organizada por ONGs que percorreram 250 municípios gaúchos, com uma pira simbólica carregada por atletas que participam da corrida do fogo, como forma de reforçar os laços de civismo. Mais isso já é outra história...

         Arara, 7set2012: Rua Solon de Lucena, mesmo local da fotografia anterior, 28 anos depois... Quanta diferença!

           Seja lá como for, o fato é que aqui em Arara não existem ONGs para realizar este tipo de evento e se não houver um aporte financeiro da Prefeitura Municipal, o evento simplesmente não se realiza. Caso ainda haja alguém que já esteja saudosista com a ausência dos desfiles cívicos, resta o consolo de saber que de hoje há trinta dias, conheceremos o novo alcaide de Arara.
    
          O interessante é notar que o candidato que representa a continuidade da administração atual, parece  não ter planos para alavancar este evento de meio século de existência na nossa comunidade. Nesse sentido, pelo ao menos, não existe uma vírgula sequer em seu plano de governo.

          Agora só nos resta esperar para ver quais serão as mudanças que a população desejará que se faça a partir de janeiro do ano vindouro. Ambos os pretendente se apresentam como novos, porém só o tempo se encarregará de mostrar quem de fato representa o novo.

sábado, 4 de agosto de 2012

O que é que Arara tem?


Que o sol escaldante da Paraíba favorece o desenvolvimento de poetas surpreendentemente dotados de criatividade, como Jessier Quirino e Zé Limeira, disto ninguém duvida! Agora, o que poucos sabem é que aqui na ‘terrinha’, aformoseado pela brisa lacustre do 'açude da rua', existe um verdadeiro discípulo do 'poeta do absurdo', embora use uma nova roupagem em suas poesias.
Trata-se do cordelista Josemar Cândido, que a exemplo do seu mestre inspirador (Zé Limeira, 1886-1954), também aborda em suas poesias temas variados que às vezes chegam às fronteiras do delírio, considerando a sua ‘cômoda situação’ como cidadão profissionalmente realizado. 
Nos cordéis de Josemar, (devido a sua posição alinhada aos governantes locais), a política tem sido um tema recorrente (como os nossos leitores já tiveram oportunidade de constatar aqui no blog), mas, inspirado em Zé Limeira, o nosso cordelista ararense certamente ficará notório por suas distorções sociológicas e pelas poesias recheadas de surrealismo. Neste ponto, o nosso artista, fielmente reproduz a arte de Zé Limeira.
Agora, com mais esta criação poética, o nosso "Zé Limeira de Arara", usou e abusou da criatividade ao construir uma septilha, cujas estrofes (raras, diga-se de passagem!) de sete versos, são muito difíceis de serem construídas. 
Aliás, este também era o estilo usado pelo 'poeta do absurdo' e pelo qual ficou famoso. Para quem não lembra das aulas de Língua Portuguesa, na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro, assim como fez Josemar, também franco admirador do contemporâneo Jessier Quirino.
Conhecendo Josemar como o conheço, não duvido nada que dia desses, ele comece a fazer usos dos neologismos esdrúxulos, além de mudar radicalmente suas impecáveis indumentárias, que atualmente em nada lembram o mais popular filho da Serra de Teixeira. 
Somente para esclarecer aos nossos leitores, o poeta Zé Limeira sempre vestia-se de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando e versando. 
Como aqui no blog estamos sempre valorizando aqueles que fazem parte da nossa história, nada mais justo que fazer publicar o cordel deste professor que também é um patrimônio intelectual do nosso município.

Cuidado eleitor (por Josemar Cândido)
   
A campanha começou
Devemos nos preparar
Pra escolher os políticos
Que vão nos representar
Eles devem ter valor
Por isso caro eleitor
Tenha cuidado ao votar










O voto é valioso

E por isso é secreto
Precisa ser conferido
A um político correto
Que pense também no povo
Seja ele velho ou novo
E que tenha bons projetos
 

O voto só fortalece
A nossa democracia
Que anda enfraquecida
Por causa da covardia
Da sujeira e da maldade
Que mancha a sociedade
Nos tirando a alegria


O voto aqui no Brasil
Surgiu depois de Cabral
Quando o país vivia
Regime colonial
Porém tornou-se mais sério
Durante o Brasil Império
Com a lei eleitoral




Mas daquelas eleições
Só ricos participavam
O voto era censitário
Apenas ricos votavam
E nestes tempos atrás
De fraudes eleitorais
Muitos políticos roubavam
   


O voto pra presidente
Veio com a Constituição
De 1891
Feita na ocasião
A mulher votou depois
Em 1932
Na nova legislação

A atual legislação
Obriga-nos a votar
É um direito de todos
Obrigação popular
Se o eleitor sumir
O governo vai punir
E seu direito cassar
 
Se o eleitor não vota
Em três seguidas seções
Sem contar nada a justiça
Sofrerá umas sanções
No CPF e em concurso
Ficando sem fazer curso
Em certas instituições


É de grande importância
O processo eleitoral
E não deve ser tratado
De maneira tão banal
Reflete a democracia
Mas pode ser uma baixaria
Assunto pra tribunal


A baixaria começa
No dia da convenção
É político se vendendo
Pra fazer coligação
Negociando legenda
Sem que o povo entenda
Nada da situação




Negociando o partido
Acaba a ideologia
E vai minando o princípio
Da frágil democracia
Que o Brasil pôde criar
E tenta consolidar
Lutando-se a cada dia



O partido é uma entidade
E uma instituição
Precisa ser preservado
De toda corrupção
Símbolo da democracia
Reflete a ideologia
De uma organização




Cuidado com os políticos
Que respondem a processo
Pois estes são motivo
De atraso e retrocesso
Não trazem prosperidade
Destroem a nossa cidade
São entraves do progresso

Em quem tem a ficha suja
Jamais podemos votar
Pois somente o eleitor
Pode o político cassar
Livrar da corrupção
A nossa rica nação
Que eles querem usurpar


 
Se a Lei da ficha limpa
O político não barrou
E político ficha suja
O tribunal liberou
Só na hora de votar
Nós podemos afastar
O político que errou



Essa Lei ainda é nova
E não tem jurisprudência
Ficando algumas cortes
Sem a máxima competência
Para julgar sobre o tema
O que gera um problema
Uma afronta à decência

Já que a falada Lei
Virou assunto banal
Aprovando a eleição
De candidato ilegal
Vai a vontade do povo
Ser transformada de novo
Em vergonha nacional


Devemos ficar atentos
Às irregularidades
Vista em candidatos
Da nossa sociedade
Que tornam o nosso Brasil
Em um lugar sem brio
Marco da impunidade





Os políticos são daqui
E não de outro planeta
É um produto do povo
De sua escolha mal feita
Sua responsabilidade
Fruto da sociedade
Que ele pouco respeita



Cuidado com candidatos
Que são de ocasião
E aparecem apenas
Às vésperas da eleição
São pessoas sem respeito
Que querem tirar proveito
De qualquer situação





Existe um crime comum
No universo brasileiro
Praticado livremente
No período eleitoreiro
Um crime eleitoral
Visto de forma banal
Fato simples, corriqueiro

 
Comprar votos é crime
Uma conduta ilegal
Como está exposto
No código eleitoral
Uma prática indecente
De político incompetente
Desonesto e imoral















Vender o voto também

É um ato criminoso
Uma atitude ilegal
Comportamento danoso
É falta de senso crítico
Que acostuma o político
Cria um ciclo vicioso


Aquele que vende o voto
Vende sua consciência
Faz mal a sociedade
Afasta-se da decência
Faz do processo eleitoral
Um comércio ilegal
Leva o Brasil a falência


O político é corrupto
Mas o povo é também
Quando sonega imposto
Não declara o que tem
Nem cumpre a constituição
Não se sente cidadão
E não se comporta bem



Os políticos são produtos
Da nossa sociedade
Criados no seio do povo
Refletem sua vontade
São por parte odiados
Por outra parte amados
Vivem em meio a falsidade


 A você, caro eleitor
Que prestou bem atenção
Nestes versos simples
Feitos com emoção
E é pessoa direita
Que todas as leis respeita
Peço-lhe o meu perdão

A você que é político
E que sabe trabalhar
Faz sua campanha bem feita
E não tenta a lei burlar
Uma coisa eu lhe peço:
O que disse nestes versos
Queira desconsiderar



Se atingi a alguém
Queira me desculpar
Fiz estes versos tentando
O eleitor alertar
Pra que nesta campanha
Não caia em artimanha
Na hora que for votar








Agradeço ao leitor
Por vossa nobre atenção
Por ter lido esses versos
E pela compreensão
De um cordelista amador
Que faz versos com amor
E com muita emoção