Passada
a euforia momentânea objeto das comemorações alusivas à vitória do prefeito de
Arara, depois do mais recente "round" político entre situação versus oposição, cujo
placar final foi de 11 x 9, em prol dos primeiros, agora é a vez do ‘choque de
realidade’, segundo o qual nem tudo sairá conforme foi idealizado pelo imaginário
inconsciente 'da conexão 17'.
Que bom seria se aquelas alegrias manifestas no
final da tarde/início da noite do dia 07 de outubro do ano passado, entre os 57,2%
dos eleitores de Eraldo, se perpetuassem por todos os dias nos próximos quatro
anos, não é mesmo?! Por outro, lado, uma
tristeza inebriante também tomaria conta de 42,8% dos eleitores simpatizantes de Nem pelo
mesmo período... Isto também seria literalmente funesto, não acham?
Nas
primeiras horas deste ano, durante a cerimônia de posse do novo prefeito, ouvia atentamente as
palavras do astuto representante dos vencedores, que ecoaram no vácuo parcial
do silêncio da madrugada, através das quais, o nosso alcaide relatava seus ‘feitos
administrativos’ dos últimos oito anos e tangencialmente admitia que estava entregando
a prefeitura numa situação financeira difícil... [Seria mais honesto se o nosso alcaide
dissesse em alto e bom tom que entregaria para o seu sucessor as chaves de uma
prefeitura quebrada].
Senão
vejamos: Mais de 300 servidores municipais ficaram com dois meses de salários
atrasados e nenhum deles recebeu o décimo terceiro salário bem como a indenização
correspondente a 1/3 férias. (Sem falar no rateio
do FUNDEB, dos professores, que nos últimos anos, ao que parece, o ‘rato comeu’...).
Somente
durante os primeiros dez meses deste ano, quando 'a casa ainda estava arrumada’ supostamente para viabilizar o sucesso nas urnas, o ‘rombo’ nas contas da prefeitura já
se aproximava de um milhão e meio de reais, para ser mais exato, R$ 1.441.180,31.
Sem contar as inúmeras pequenas contas no comércio local que não foram
empenhadas em tempo hábil.
Além desta soma astronômica, não
contabilizamos o calote milionário perpetrado pela Prefeitura de Arara contra o Instituto Municipal de Previdência,
que oscila na cifra dos 5 milhões de reais, considerando que no mês de
outubro/2012, haviam pouco mais de R$ 38.000,00 de reservas no banco, valor insuficiente
para o pagamento de metade do 13º salário das 99 aposentadorias e pensões.
E o que dizer, então, dos convênios com o Governo Federal? Excetuando-se as compras de veículos e máquinas, todos ficaram inconclusos, nas palavras do alcaide "por problemas técnicos"...
É essa ‘batata quente’ que caiu nas mãos de Eraldo.
É essa ‘batata quente’ que caiu nas mãos de Eraldo.
Como
primeiro passo, o município precisa estabelecer um planejamento e uma
estratégia. Um diagnóstico socioeconômico da cidade de Arara deverá ser elaborado
pelo novo administrador, que assim poderá obter uma radiografia das nossas
potencialidades. Qual a vocação econômica do município de Arara? Qual setor é
mais forte? A abundante mão de obra local é capacitada? Existe artesanato religioso
em Arara que possa gerar emprego e renda? Na agricultura familiar/pesca
artesanal, poderia ser criada uma cadeia produtiva integrada, abrangendo desde
o agricultor/pescador até o consumidor final?
Açude público do 'saco': Por que não se faz uma adutora para abastecimento da cidade numa situação de emergência?
Estas
são apenas algumas perguntas que a nova administração precisa responder. De
modo geral, o município de Arara é conhecido por sua vocação para o setor da agropecuária ou
para o de serviços. O setor do turismo poderia apostar em nossas belezas
naturais, nossa temperatura amena e nos aspectos culturais para estimular o
turismo e atrair idosos (aposentados, com muito dinheiro para gastar) para fixar residência
permanente na cidade.
Afloramento rochoso da "Pedra da Glória" na comunidade do Jucá: local isolado pela sinuosidade do rio com paisagens singulares...
Vale
lembrar que também na seara do turismo religioso, alguns questionamentos precisam ser
feitos: O santuário de Santa Fé, e por extensão, a festa da Padroeira de Arara
têm infraestrutura para receber os turistas? Há pousadas em quantidades suficientes para acolher este público? Temos água potável para atender bem aos turistas? Há
restaurantes e outros serviços, como por exemplo, hospital e farmácias atendendo
diuturnamente? Os nossos religiosos estão preparados para receber bem os
turistas? E como fica a questão da segurança?
Santuário de Santa Fé: Uma das alternativas para alavancar o turismo religioso de Arara...
E
como saber se o turismo religioso é mesmo a melhor opção para o município?
Enfim, o primeiro passo é mesmo responder estes questionamentos, para depois
estabelecer uma estratégia. Definitivamente, não se pode vender o turismo
religioso do Santuário do Padre Ibiapina e da festa da padroeira, sem antes
termos a absoluta certeza de que essa é a melhor alternativa para o nosso setor
de serviços.
Poderia ser muito interessante para o turismo religioso, pensar numa 'romaria' entre a Matriz de Arara e o Santuário, com parada obrigatória nas ruínas da última construção feita por Padre Ibiapina.
A
nova administração precisa avaliar se é mesmo necessário ‘torrar’ milhares de
reais dos parcos recursos da educação para contratar 'Dukinha' e outras bandas de forró de gosto duvidoso além das tradicionais girândolas para a festa da padroeira, e se realmente há um impacto socioeconômico
positivo para o município de Arara.
Caso
contrário, como já vem ocorrendo a cada ano, durante as festividades da
padroeira, a cidade apenas continuará atraindo turistas eventuais (com baixo poder de compra), que pouco representam para mercado de consumo, deixando
apenas a cidade mais suja, aumentando os índices da violência e ampliando ainda
mais o nosso grave problema social.
Resta
agora torcer e esperar que o novo prefeito, consiga levar a cidade de Arara a
dar um passo à frente, com harmonia, paz e justiça econômica e social.
Voltando
a chamada do título, ele foi inspirado numa obra do genial Machado de Assis,
intitulada “Quincas Borba” na qual o escritor narra a trajetória de Rubião,
professor que se torna rico de uma hora para outra ao receber uma herança
deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada
Humanitismo.
(Caros leitores, por favor, não confundam com a herança política do ex-prefeito Biruca
para o professor Zé Ernesto).
Após receber a herança, Rubião
deslumbra-se com a nova vida e acaba traído por um casal de amigos, que rouba
sua fortuna. No final da vida, pobre e doente, ele relembra um ensinamento de
Quincas Borba, que sintetiza o Humanitismo.
Para explicar sua teoria, o
filósofo evoca uma história sobre duas tribos famintas diante de um campo de
batatas, suficientes apenas para alimentar um dos grupos. Com as energias
repostas, os vencedores podem transpor as montanhas e chegar a um campo onde há
uma grande quantidade de batatas. Então, Quincas Borba finaliza: "Ao
vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor,
as batatas".
E por falar no autor de "Memórias póstumas de Brás Cubas", durante aquela cena patética no final da cerimônia de posse do Prefeito, uma pessoa de saudosa lembrança, deve ter se retorcido todinha no túmulo...